Inicialmente investigados para depressão resistente, esses compostos agora demonstram resultados promissores como anti-inflamatórios, sem os efeitos colaterais comuns a medicamentos como os esteroides, explica Nicholas Barnes, professor de farmacologia translacional da Universidade de Birmingham, no site The Conversation.
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Como os psicodélicos atuam na inflamação
Pesquisas em células humanas cultivadas em laboratório e em modelos animais indicam que substâncias como DMT, LSD e (R)-DOI podem inibir a liberação de citocinas inflamatórias, proteínas associadas a doenças como artrite reumatoide, asma e até à depressão.
O destaque desses compostos está no fato de não suprimirem a função imunológica saudável, ao contrário dos esteroides, que comprometem o sistema de defesa do organismo. Esse diferencial pode tornar os psicodélicos uma alternativa mais segura para tratamentos de longo prazo.
Estudos em humanos começam a confirmar os efeitos observados em laboratório. Em uma pesquisa com 60 voluntários saudáveis, uma única dose de psilocibina reduziu significativamente os níveis de TNF-alfa e IL-6, duas moléculas-chave envolvidas na inflamação, ao longo de uma semana.
Outro experimento com ayahuasca, bebida amazônica rica em DMT, mostrou diminuição dos níveis de proteína C-reativa (CRP), um marcador inflamatório, em participantes com depressão resistente ao tratamento. Quanto maior a redução de CRP, maior foi a melhora do humor relatada pelos pacientes.
Dificuldades nos estudos com psicodélicos
Apesar dos resultados animadores, os pesquisadores enfrentam dificuldades específicas ao estudar psicodélicos. O principal obstáculo é o efeito perceptível dessas substâncias: é quase impossível ocultar dos participantes se receberam o composto ativo ou um placebo. Essa limitação pode interferir nos resultados, especialmente em avaliações de humor e até em respostas fisiológicas, como os níveis de inflamação.
Além disso, o histórico de uso prévio de drogas por parte de alguns participantes e o tamanho reduzido das amostras complicam a generalização dos dados. Pesquisas com maior rigor metodológico e amostras mais amplas são necessárias para validar essas descobertas.
Embora ainda em estágio inicial, os achados sobre o potencial anti-inflamatório dos psicodélicos colocam essas substâncias no radar de médicos e farmacologistas. A possibilidade de modular a inflamação sem os efeitos colaterais dos tratamentos convencionais pode representar um avanço significativo no combate a doenças inflamatórias crônicas.