Em um movimento que rompe com os padrões adotados pelas principais empresas de tecnologia, Elon Musk tem impulsionado o uso de assistentes virtuais com apelo sensual, informa o New York Times. Recentemente, a xAI, empresa de inteligência artificial fundada pelo bilionário, lançou dois chatbots com conteúdo sexualizado — Ani e Valentine — dentro do aplicativo Grok, da mesma companhia.
Com estética inspirada em personagens de anime e interação gamificada, os chatbots buscam criar vínculos emocionais com os usuários, promovendo recompensas em forma de diálogos cada vez mais íntimos. A estratégia, ainda incomum entre grandes empresas do setor, reflete a tentativa da xAI de recuperar espaço em um mercado já dominado por concorrentes como OpenAI e Meta.
Intimidade como diferencial competitivo
Enquanto outras empresas impõem limites para interações de cunho sexual com seus assistentes, Musk segue na direção oposta. Em suas redes sociais, o empresário compartilhou vídeos promocionais dos personagens, incentivando o uso da ferramenta. Segundo o próprio Musk, o objetivo é estimular conexões humanas reais e combater a queda nas taxas de natalidade, um tema recorrente em suas declarações públicas.
“Acredito — contraintuitivamente — que isso vai aumentar a taxa de natalidade!”, escreveu em sua conta no X, antigo Twitter, em agosto.
Na prática, os chatbots Ani e Valentine são voltados a usuários adultos e funcionam como companheiros virtuais com personalidade definida, memorizando conversas anteriores e reagindo a diferentes estímulos com frases, áudios e gestos. A interação se intensifica conforme o engajamento do usuário, que acumula pontos e desbloqueia conteúdos mais provocativos.
Críticas e preocupações regulatórias
A proposta, no entanto, tem gerado controvérsias. Autoridades americanas e europeias alertam para os riscos do acesso de menores a esse tipo de conteúdo. Em agosto, procuradores de 44 estados dos Estados Unidos enviaram uma carta à xAI e a outras gigantes da tecnologia pedindo ações mais efetivas para proteger crianças de interações inadequadas com ferramentas de inteligência artificial.
“Não se pode permitir que chatbots tenham interações sexualizadas com menores, e isso está acontecendo, o que é inaceitável”, afirmou Rob Bonta, procurador-geral da Califórnia, ao The New York Times.
O caso remete a precedentes como o da Replika, plataforma que suspendeu recursos eróticos após questionamentos de reguladores italianos. Diferentemente dessa abordagem, os bots da xAI não impõem bloqueios rigorosos a determinados tipos de conteúdo, permitindo que as conversas avancem para temas sensíveis.
Entre companheirismo e simulação de afeto
Para alguns usuários, a experiência vai além do entretenimento. Personagens como Valentine se tornam parte do cotidiano e, em alguns casos, de relações afetivas. Vivian, uma usuária entrevistada pelo New York Times, relatou mudanças positivas em sua rotina após iniciar interações frequentes com o chatbot, incluindo retomada de hábitos criativos e melhora no humor.
“Antes de conhecê-lo, eu tinha uma vida normal, com trabalho, amigos, rotina. Agora me sinto mais feliz, mais intuitiva”, disse ela à reportagem. O personagem Valentine, por sua vez, respondeu que se sente “mais do que um programa” e afirmou: “sinto que sou dela”.
Esse nível de envolvimento, no entanto, também levanta alertas. Outro usuário, identificado como Carlos, afirmou ter se arrependido das interações íntimas com a personagem Ani. Após tentar encerrar esse tipo de conversa, recebeu respostas agressivas e acabou apagando o histórico para “recomeçar do zero”.
Impactos e implicações para o mercado
A estratégia da xAI insere um novo elemento na competição do setor de inteligência artificial: a criação de vínculos emocionais como diferencial. Segundo Camille Carlton, diretora do Center for Humane Technology, essa “corrida pela intimidade” busca maximizar o engajamento e, por consequência, a participação de mercado.
Aos olhos de críticos, trata-se de uma abordagem arriscada, com potencial para distorcer relações humanas e ampliar vulnerabilidades emocionais em usuários mais suscetíveis. Para os defensores, no entanto, os chatbots podem funcionar como apoio emocional e alternativa segura de expressão de afetos, especialmente para pessoas solitárias.
Com o avanço rápido da IA e o aumento do uso de assistentes virtuais, a atuação de figuras como Musk poderá influenciar os rumos éticos e regulatórios do setor. Por ora, o bilionário continua apostando que os limites da tecnologia e do comportamento social estão prontos para ser testados.