Da greve dos roteiristas de Hollywood, que pediam proteção contra o uso da tecnologia, à presença em filmes indicados ao Oscar, não é segredo que a inteligência artificial já ocupa um espaço cada vez maior no mundo do cinema. Apesar das polêmicas, diretores como Joe e Anthony Russo, da Marvel, já anunciaram planos de investir US$ 400 milhões no desenvolvimento de ferramentas de IA para cineastas, atraídos pelo potencial criativo que a tecnologia oferece.
Apostando nesse mesmo potencial, a CloudWalk Studios lançou o CloudWalk AI Shorts Festival (CAIS). O objetivo é impulsionar o setor e explorar novas formas criativas no audiovisual. De acordo com Ricardo Mordoch, Head de Audiovisual da empresa, a CloudWalk tem investido na produção de obras com o uso de IA, processo que acabou levando à criação de um departamento próprio de Visual IA dentro da companhia.
“Acompanhamos com entusiasmo o surgimento de curtas e festivais ao redor do mundo. Diante disso, sentimos que era o momento certo para celebrar essa novidade e os artistas que a exploram, criando um espaço próprio para reunir e inspirar essa comunidade criativa”, comentou.
A iniciativa vai selecionar curtas-metragens de 1 a 10 minutos, que serão avaliados por um júri formado por cineastas e profissionais do audiovisual. Esse júri também apontará os três melhores filmes, que receberão prêmios. A tecnologia poderá ter sido aplicada em qualquer etapa do processo criativo, e as produções devem ter sido concluídas em ou após 1º de janeiro de 2024.
Segundo Mordoch, a proposta do CAIS é reforçar a ideia de que a IA pode ser uma parceira na invenção artística, ampliando as possibilidades criativas e atuando como uma aliada tanto no setor quanto no mercado audiovisual. “Queremos que o público e os artistas possam experimentar a IA não como uma ameaça, mas como uma nova linguagem audiovisual que soma às anteriores, expandindo as possibilidades criativas”, explica.
A inteligência artificial como aliada criativa e os desafios dos direitos autorais
Segundo o Head de Audiovisual, a tecnologia fortalece o curta-metragem como um espaço de experimentação e contribui para a democratização do setor. Ao permitir que artistas sem acesso a altos custos de produção participem e ao oferecer um conjunto variado de ferramentas criativas, a IA torna as produções mais acessíveis e diversas. “Em vez de reduzir o papel do artista, acreditamos que a tecnologia irá ampliar a diversidade de vozes e linguagens no cinema”.
Além disso, a IA não apenas potencializa a criatividade, mas também otimiza o uso do espaço físico, revelando novas possibilidades de produção tanto criativa quanto logística. “Historicamente, curtas sofrem com restrições de orçamento, equipe ou recursos de produção. A inteligência artificial elimina muitos desses obstáculos: não há barreiras de casting, locação, equipamentos ou número de diárias”.
Apesar dos benefícios da IA, ainda existem receios em relação à possível perda de empregos, com funções sendo substituídas pela tecnologia. Além disso, as discussões sobre direitos autorais continuam a levantar dúvidas sobre até que ponto vale a pena apostar em seu potencial dentro do setor.
O tema já ganhou destaque na mídia em casos como o da Getty Images contra a Stability AI, responsável pelo gerador de imagens Stable Diffusion, em 2023. A empresa de banco de imagens acusa a Stability AI de utilizar suas fotografias para treinar o modelo de inteligência artificial generativa sem autorização, em uma das disputas do mercado sobre os limites legais no uso de obras protegidas por direitos autorais.
Segundo a CloudWalk, um dos intuitos do festival também é debater os limites entre a criação e os direitos autorais. “Nosso objetivo é, ao mesmo tempo, celebrar a IA como linguagem criativa e abrir espaço para o debate sobre os desafios éticos e jurídicos que ela traz. Acreditamos que a tecnologia deve caminhar de mãos dadas com a responsabilidade, mas sem perder de vista sua força transformadora e o impacto positivo que já está gerando no campo audiovisual”, explica Mordoch.
O festival exige que os participantes assumam a responsabilidade pelos direitos autorais das obras inscritas, sejam elas roteiros, músicas ou imagens.
Além disso, ao contrário de alguns cineastas e críticos do mercado, Mordoch afirma que, mesmo com a tecnologia participando da produção cinematográfica, o elemento humano continuará sendo essencial nos filmes. Segundo ele, um dos objetivos do CAIS é justamente explorar maneiras criativas da tecnologia, mantendo a essência do contato humano.
“O cinema sempre será, antes de tudo, uma expressão humana. As pessoas se conectam com pessoas na tela — com suas emoções, olhares e sensibilidades. Por isso, acreditamos que a IA não apagará essa essência, mas criará novas camadas de linguagem”.
Premiação e critérios
Os três primeiros colocados receberão, respectivamente, R$ 8.400, R$ 4.200 e R$ 2.100. Para concorrer, os participantes devem atender a critérios como originalidade e visão artística, execução técnica, impacto emocional ou intelectual, clareza de contexto e intenção, além de risco experimental e inovação. As inscrições vão até 10 de outubro, pelo site da CloudWalk.
O festival será realizado em 14 de novembro, em São Paulo, quando os trabalhos selecionados serão apresentados ao público. “Assim como em outras revoluções tecnológicas, acreditamos que as conversas geradas pelo CAIS contribuirão para o debate global sobre como arte e tecnologia podem se reinventar mutuamente”, conclui Ricardo Mordoch.