Maria Branyas viveu até os 117 anos, superando em mais de três décadas a expectativa de vida média das mulheres em sua região, na Catalunha, Espanha. Cientistas do Instituto de Pesquisa em Leucemia Josep Carreras analisaram amostras de sangue, saliva, urina e fezes da supercentenária e identificaram características genéticas e fisiológicas notáveis, que podem ter contribuído para sua longevidade. As informações são do site ScienceAlert.
O estudo, publicado na revista Cell Reports Medicine, revelou que Branyas apresentava um genoma “jovem”, com variações raras relacionadas à longevidade, saúde cardíaca, função cerebral e resposta imunológica. Segundo os pesquisadores, os dados podem abrir caminhos para o desenvolvimento de biomarcadores de envelhecimento saudável e novas estratégias para estender a expectativa de vida.
Genética, saúde metabólica e estilo de vida
Apesar da idade avançada, Maria Branyas exibia baixos níveis de inflamação, excelente saúde cardiovascular e um perfil lipídico invejável: níveis reduzidos de colesterol “ruim” e triglicérides, além de concentrações elevadas de colesterol “bom”.
Outros exames mostraram que seu sistema imunológico e microbioma intestinal apresentavam características similares às de pessoas muito mais jovens. Os cientistas observam que tais indicadores podem ter contribuído diretamente para a preservação de sua saúde geral.
Branyas também mantinha uma vida mental, social e fisicamente ativa, e seguia uma alimentação do tipo mediterrânea, rica em iogurte, segundo os relatos. No entanto, os pesquisadores destacam que fatores genéticos parecem ter desempenhado um papel determinante em sua longevidade.
Telômeros curtos e longevidade extrema
Um dos achados mais intrigantes da pesquisa foi a grande erosão dos telômeros de Branyas, estruturas que protegem os cromossomos e geralmente se encurtam com o envelhecimento. Em grande parte da população, telômeros mais curtos estão ligados ao aumento do risco de morte. No caso da supercentenária, no entanto, essa condição pode ter tido um efeito oposto.
Os autores do estudo sugerem que a curta vida útil das células de Branyas pode ter funcionado como uma barreira contra o surgimento de doenças como o câncer, impedindo a proliferação celular descontrolada. Essa hipótese reforça a ideia de que longevidade e fragilidade não são necessariamente correlacionadas.
Pesquisas com apenas uma pessoa, especialmente uma tão notável como Branyas, são limitadas no que podem revelar para o restante de nós. Santos-Pujol, Noguera-Castells e seus colegas na Espanha reconhecem que são necessárias amostras maiores para extrapolar seus resultados. Mas estudos maiores comparando pessoas excepcionalmente longevas com seus pares de vida curta também encontraram biomarcadores que as diferenciam do restante dos mortais.
Centenários são o grupo demográfico que mais cresce no mundo, mas apenas uma em cada 10 pessoas que chegam aos 100 anos vive para ver a próxima década. O que Branyas proporcionou aos pesquisadores foi uma rara oportunidade de estudar os possíveis caminhos que tornam possível uma expectativa de vida humana extrema.