A inteligência artificial está transformando como as organizações operam –e não estamos falando apenas de implementação técnica. Os sistemas modernos de IA estão assumindo funções que antes seriam desempenhadas por humanos, e as pessoas que trabalham com esses sistemas, geralmente, precisam de requalificação, capacitação e treinamento.
Em artigo publicado no MIT Sloan Review, Faisal Hoque, fundador de empresas como Shadoka e NextChapter, Thomas Davenport, professor no Babson College e consultor sênior do Programa de Chief Data and Analytics Officer da Deloitte e Erik Nelson, vice-presidente sênior da CACI International, dizem que para gerenciar com sucesso essa combinação de ferramentas de IA e pessoas trabalhando, os líderes precisam compreender fatores humanos e organizacionais complexos, como agilidade e mudança cultural, dinâmicas de personalidade e inteligência emocional.
No entanto, a maioria das organizações continua tratando a implementação de IA como um desafio principalmente técnico — e, segundo os autores, os papéis de liderança em tecnologia atuais refletem essa mentalidade.
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Em vez de focar nos aspectos de mudança cultural e organizacional relevantes para a IA, grande parte do tempo e esforço dos líderes de TI e dados é gasto em funções operacionais, tradicionalmente vistas como o “ganha-pão”. Os líderes de RH, em sua maioria, também não assumiram a responsabilidade de lidar com essas mudanças, embora a transformação pela IA tenha implicações humanas e organizacionais.
Isso destaca uma lacuna na liderança organizacional. Embora os CIOs (Chief Information Officers) ou Diretores de Informações e os CTOs (Chief Technology Officers) ou Diretores de Tecnologia desempenhem papéis essenciais em implementações técnicas e manutenção de sistemas, muitas vezes carecem de tempo e de mandato para lidar com as muitas implicações humanas e organizacionais da transformação com IA.
Para os autores, as organizações precisam de um novo tipo de líder.
“O novo papel que visualizamos como essencial na era da IA — que pode ser chamado de Chief Innovation and Transformation Officer (CITO) ou Diretor de Inovação e Transformação — combina expertise técnica, insights comportamentais e visão estratégica com uma compreensão profunda de psicologia organizacional e mudança cultural”, afirmam.
A função de CITO (ou equivalente) abrange diversas funções. No nível estratégico, esses líderes alinham as iniciativas de IA com o propósito organizacional, ao mesmo tempo em que desenvolvem roteiros de transformação de longo prazo. Eles garantem o alinhamento ético entre as implementações e, ao mesmo tempo, criam estruturas para inovação sustentável.
Em termos de liderança cultural, os CITOs guiam a evolução de suas organizações durante a transição para a IA, gerenciando proativamente a resistência à mudança. Eles impulsionam a inovação em todos os níveis da organização, mantendo conexões humanas significativas em processos automatizados e construindo segurança psicológica para funcionários e clientes.
Segundo eles, essa combinação de habilidades garante que as organizações estejam devidamente preparadas para gerenciar as profundas mudanças que a era da IA trará. As empresas ainda estão debatendo o título do cargo, mas organizações visionárias já estão empregando ou contratando esses líderes.
O que os líderes precisam ter
Segundo os autores, os líderes responsáveis pela implementação de IA precisam ser capazes de:
- Considerar questões éticas complexas
A implantação da IA requer consideração das implicações éticas, mitigação de vieses e alinhamento com os valores organizacionais.
- Promover transformação cultural
Para integrar a IA com sucesso — especialmente agentes de IA — é preciso transformar a cultura da organização para abraçar novas formas de trabalhar e pensar.
- Gerenciar a colaboração humano+IA
Os líderes devem compreender tanto as capacidades da IA quanto as habilidades e a psicologia humanas para criar parcerias eficazes entre trabalhadores e sistemas.
- Conduzir a integração entre áreas
A implementação de IA toca todas as partes de uma organização, exigindo líderes que possam trabalhar além dos silos tradicionais.
- Lidar com incentivo e gestão de riscos
A IA está permitindo que profissionais de negócios desenvolvam sistemas e modelos que antes só poderiam ser criados por profissionais de TI — uma tendência que requer incentivo e gestão de riscos simultaneamente.
- Garantir inovação responsável
Os líderes precisam equilibrar a busca por inovação com uma consideração cuidadosa dos riscos potenciais e dos impactos sociais.
- Lidar com a gestão de personas de IA
A gestão de personas de IA é um exemplo de uma nova responsabilidade. Ferramentas de IA generativa já podem ser solicitadas a assumir personalidades específicas — um professor, um cientista, um advogado e assim por diante. À medida que o uso de IA agêntica cresce, as empresas precisarão gerenciar esses agentes de IA que terão maiores níveis de autonomia, além de atributos e identidades específicos.