A Salesforce mira a inauguração uma nova era. Durante a abertura da Dreamforce 2025, convenção anual da empresa realizada em São Francisco, nos EUA, o CEO Marc Benioff destacou o conceito de “empresa agêntica” (Agentic Enterprise), definido como a próxima revolução depois das eras da nuvem, da mobilidade, das redes sociais e da IA preditiva. A companhia projeta atingir US$ 40 bilhões em receita neste ano fiscal.
O ponto central, segundo Benioff, é o que ele chama de “divisão agêntica” (agentic divide) — o abismo entre o poder da IA de consumo e a eficiência real nas empresas. “Os modelos de linguagem são incríveis para uso pessoal, mas o ambiente corporativo ainda não alcançou esse nível de integração”, disse o executivo. A solução, afirmou, depende de dados estruturados, governança e clareza de propósito.
Brad Lightcap, da OpenAI, reforçou essa visão: “Os sistemas de IA precisam se integrar às ferramentas que as pessoas já usam.” Para Benioff, o futuro será construído em um ambiente onde humanos e agentes inteligentes atuam lado a lado para impulsionar o sucesso do cliente — com a ressalva de que a IA “ainda não é perfeita” e exige supervisão humana.
A nova plataforma: previsibilidade e integração
A estrela da noite foi o Agent Force 360, plataforma na qual a Salesforce está reconstruindo todos os seus produtos. Benioff afirmou que a velocidade de inovação com o Agent Force “é mais rápida do que com qualquer outra tecnologia anterior”.
O sistema inclui o Agent Force Vi, que permite aos mais de 21 milhões de usuários criar soluções personalizadas de código apenas descrevendo o que desejam. Patrick Stokes, presidente de produto e indústrias da Salesforce, explicou que a ferramenta entende tanto a linguagem da IA quanto a linguagem do negócio, conectando dados, permissões e relacionamentos.
Para reduzir a imprevisibilidade dos modelos generativos, a empresa criou o Agent Script, que transforma linguagem natural em código determinístico, garantindo respostas consistentes. Essa confiabilidade é reforçada pelo Data 360, evolução do Data Cloud que transforma dados brutos em contexto útil, e pelo Agent Force Voice, que leva agentes de IA diretamente aos contact centers.
O alerta de Michael Dell: reinventar antes que outro o faça
O aviso mais enfático veio de Michael Dell, CEO da Dell Technologies, cuja companhia já tem mais de 19 mil usuários operando com o Agent Force Supply Chain. “Simplifique, padronize, reimagine o processo — e só depois aplique a tecnologia”, aconselhou. Dell contou que percebeu a virada quando a computação deixou de apenas “calcular” e passou a “pensar”.
“Se não abraçarmos essa mudança”, disse, “outra empresa virá e nos tirará do mercado. A única maneira de evitar isso é nos tornarmos essa empresa.”
Outras companhias também mostraram como estão incorporando o conceito de empresa agente:
- PepsiCo quer ser a primeira empresa “AI first” até 2026, aplicando agentes de IA em toda a operação.
- Williams Sonoma lançou, em apenas 30 dias, o agente Olive, que oferece receitas e tutoriais personalizados.
- Pandora criou a Gemma, assistente que replica a experiência de loja online.
- FedEx usa o Data 360 para reativar clientes inativos e o Agent Force IT Service para automatizar o suporte técnico.
Governança, modelo de negócios e propósito social
A CEO da Accenture, Julie Sweet, chamou a atenção para o que definiu como “reinvenção em grande escala”: não se trata de pequenas soluções, mas de redesenhar operações inteiras.
Benioff encerrou o evento reafirmando o compromisso social da Salesforce — que já doou quase US$ 1 bilhão por meio do modelo 1-1-1 — e anunciou o novo Agentic Enterprise License Agreement, que flexibiliza os preços com opções baseadas em ações, créditos ou licenças ilimitadas. “Um modelo único não serve para todas as empresas na era dos agentes inteligentes”, disse.
*O repórter viajou para São Francisco a convite da Salesforce