Quanto se fala em executivos C-level, logo vem à cabeça aquele tipo de profissional que vive para a empresa, trabalha presencialmente em tempoo integral, não sai do escritório por nada e tem longos contratos com as companhias. Mas saiba que esse modelo está mudando.
O termo fractional executives (ou executivos fracionados, em tradução livre) surgiu recentemente para dar nome a uma prática que não é tão nova assim, mas vem crescendo, segundo Isis Borge, sócia-diretora da Assigna e sócia da consultoria de recrutamento Talenses Group. Trata-se de executivos C-level que oferecem suas habilidades ou serviços específicos de forma flexível a múltiplas empresas.
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“Hoje, muitos executivos sêniores não se dedicam mais em tempo integral a uma determinada empresa. Em vez disso, atuam ao mesmo tempo em projetos de diversas companhias. Individualmente, nenhuma delas seria capaz de pagar o salário desse profissional”, diz a sócia-diretora da Assigna. “Atualmente, alguns executivos estão usando o termo fractional executive para se autodesignar. Mas muitos já atuam nesse modelo há algum tempo, seja em startups, seja em empresas maiores.”
Isis explica que o período em que os executivos trabalham nos empreendimentos pode variar, e as configurações do trabalho também. “Às vezes, trabalha para uma determinada empresa uma vez por semana, ou por meio período. Em outras companhias, ele fica mais dias, por exemplo. O tempo dele é fracionado conforme a demanda dos projetos. Dessa maneira, consegue trazer impacto para empresas que não teriam a capacidade de ter um executivo tão experiente”.
Ricardo Guterres, sócio da SG Comp Partners e especialista em remuneração estratégica, ressalta que esse tipo de modalidade não está restrita a CEOs. Eventualmente, isso também pode acontecer com um cargo mais técnico, como um CTO (Chief Technology Officer) ou um CFO (Chief Financial Officer). “O part-time C-level também traz uma munição para aquela empresa, como um networking que ela não conseguiria.”
Como funciona a remuneração
Os executivos que optam por esse modelo de trabalho podem receber por hora, por mês ou até mesmo por projeto fechado. “Há empresas que combinam um valor mensal ; outras focam em entregas de projetos que ele vai acompanhar. E outras empresas combinam por hora. E, então, eles fecham o valor”, diz Isis.
Segundo a sócia-diretora da Assigna, muitos executivos perceberam que é possível compor uma remuneração adequada dessa forma. “Claro que às vezes é preciso abrir mão de alguns benefícios corporativos, os quais o próprio executivo terá que bancar.”
Guterres levanta outra possibildade de pagamento para esses executivos. “Em muitas situações, principalmente no que se refere a startups, o equity também pode ser uma boa moeda de troca, até porque isso cria um alinhamento. “Quando se fala em equity, o profissional ganha um pedaço do ativo que irá passar por uma valorização daqui a um, dois, três anos.”
Qual a motivação?
Os motivos para adoção desse tipo de modelo são variados: o executivo pode estar buscando flexibilidade de horário, ou enxergando a possibilidade de contribuir com vários negócios, em uma posição diferente daquela de conselheiro.
“O Brasil ainda não é tão forte nesse tipo de opção, em oportunidades part-time, por exemplo. São poucas profissões que permitem esse tipo de flexibilidade”, diz Isis. Ela acredita, porém, que as relações de trabalho têm mudado, principalmente no pós-pandemia, com muitos profissionais repensando suas rotinas. “Profissionais mais experientes, que já têm uma situação financeira estabelecida, podem se permitir mudar o formato de trabalho” diz a especialista.
“Eu já ouvi executivos dizendo que fazem isso porque assim conseguem ser mais úteis, é uma coisa que a gente ouve muito. Mas tem pessoas que passaram alguma situação familiar de perda e se deram conta de que queriam estar mais perto da família. Ou que enfrentaram um burnout, alguma questão de saúde, e não estão mais dispostos a ter uma dedicação exaustiva, como muitos cargos exigem”, afirma a sócia-diretora da Assigna.