Estava outro dia no YouTube quando a barra lateral da plataforma me recomendou uma gravação estupenda de “Who Wants to Live Forever”, interpretada pelo seu autor, o guitarrista Brian May, do Queen, junto com o tenor italiano Andrea Bocelli. A letra, “Quem quer viver para sempre?”, nos convida a refletir sobre o desejo de imortalidade e o fim inevitável de todos nós. A música me tocou especialmente porque, naquela semana, eu estava refletindo sobre a entrevista que havia feito com Arthur Diniz, 59 anos, palestrante de liderança, mentor de empresários e investidor-anjo, sobre seu protocolo de longevidade. Esse protocolo inclui exames genéticos, jejum intermitente, exercícios regulares, uso de tecnologias como sauna infravermelha e ozonioterapia, além de terapias experimentais ainda proibidas em muitos países.
Na manhã em que conversamos, Arthur havia chegado da Costa Rica, onde passou por três procedimentos para otimizar a sua performance física e cognitiva, prevenir doenças degenerativas, inflamatórias e lesões: Troca Terapêutica de Plasma (TPE, do inglês Therapeutic Plasma Exchange), Infusão de Células-Tronco (Derivadas de Cordão Umbilical) e Injeção de Células Tronco nas juntas (joelhos, cotovelos, quadris e ombros). Conheço o Arthur desde o início deste século, quando, recém-saído do MBA pela Universidade Columbia (EUA), seu passe era muito disputado entre os principais bancos do país. Anos depois, acompanhei quando ele abandonou tudo para criar a Crescimentum, empresa que revolucionou os treinamentos de liderança, pregando, entre outras coisas, que todo líder devia praticar a meditação. Em 2020, a empresa foi vendida para o grupo francês Cegos. Economista de formação, ele sempre foi uma pessoa introspectiva e tímida, mas que se transforma no palco, sendo capaz de prender a atenção de plateias com milhares de pessoas.
Seu interesse pelo tema da longevidade surgiu após a mãe ser diagnosticada e falecer com Demência com Corpos de Lewy (DCL), que combina sintomas de duas terríveis doenças, Alzheimer e Parkinson. “As doenças do cérebro me assustam muito mais do que as do coração”, diz ele. Arthur garante que não quer viver para sempre, como o milionário americano Bryan Johnson, de 48 anos, protagonista do documentário “O homem que quer viver para sempre”, na Netflix. Johnson costuma aparecer em entrevistas e eventos usando camisetas com os dizeres “Don’t Die” (não morra) e afirma gastar US$ 2 milhões de dólares por ano em procedimentos que o mantêm com o rostinho de 18 anos (estou simplificando, claro!).
“Se vou viver muito ou não”, diz Arthur, “isso é irrelevante. “Para mim, o importante é maximizar cada segundo da vida hoje, com performance e autonomia, vivendo com qualidade. Prefiro ter mais 10 anos surfando, viajando e fazendo o que amo, do que ter 30 sem qualidade.” Sua estratégia está fundamentada em três pilares: o envelhecimento é tratável (um processo biológico que pode ser desacelerado, revertido e otimizado); é possível manter a performance com vitalidade (preservar energia, força e clareza mental); é possível combinar dados laboratoriais, tecnologias de ponta e práticas ancestrais para otimizar os resultados.
Arthur diz que o autocuidado começou em 2005, após anos de sobrepeso e problemas de saúde, quando decidiu aplicar o conceito de biohacking em sua própria vida. Biohacking é uma combinação de ciência, tecnologia e autocuidado para “hackear” o próprio corpo, buscando eficiência e longevidade. Pressupõe intervenções científicas, tecnológicas e comportamentais para melhorar a saúde, o desempenho físico e mental e a longevidade. A meditação, que ele pratica duas vezes por dia, vem dessa época. Sauna infravermelha (3 a 5 vezes por semana, promove a desintoxicação e melhora a circulação sanguínea), terapia da luz vermelha (10 a 20 minutos por dia, acelera a produção de colágeno), ozonioterapia (5 vezes por semana, aumenta a oxigenação celular) e o Leela Quantum Blocs (15 minutos por dia, reduz o impacto da radiação eletromagnética) são alguns dos recursos que ele usa para “hackear” seu organismo.
“Sou meu próprio experimento vivo”, diz Arthur, que monitora sua evolução por meio de check-ups regulares (incluindo avaliação de biomarcadores de longevidade), uso de wearables avançados (como o FreeStyle Libre, que monitora a glicose) e testes genéticos para rastrear o processo de envelhecimento biológico. No dia a dia, ele também pratica o jejum intermitente (nas 8 horas diárias em que se alimenta, a dieta prioriza gorduras saudáveis, sem açúcar nem alimentos processados), usa óculos de proteção contra a luz azul uma hora antes de dormir e toma cerca de cinquenta suplementos.
Quanto ao estilo de vida, pratica surf regularmente, faz exercícios funcionais e de mobilidade cinco vezes por semana e toma sol todas as manhãs. “Não se trata de evitar a morte, mas de maximizar cada segundo de vida com presença, energia e sentido” escreve ele na última das 18 páginas da sua Estratégia de Longevidade. Para finalizar, além dos exercícios físicos, Arthur anda pelo menos 10 mil passos por dia como parte de protocolo específico para prevenir o Alzheimer.
*Maria Tereza Gomes é jornalista, mestre em administração de empresas pela FEA-USP, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”