Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, em parceria com o instituto Deltares, da Holanda, lançou um alerta sobre o futuro das Ilhas Maldivas. Enchentes que hoje são consideradas excepcionais podem se tornar eventos regulares, com uma frequência de dois a três anos, já a partir de 2050, segundo informações da universidade.
O trabalho analisou o episódio ocorrido em julho de 2022, quando 20 ilhas maldivas foram atingidas por uma combinação de maré extremamente alta e ondas originadas de uma tempestade distante. O impacto foi o mais severo registrado na região desde o tsunami de 2004. A análise detalhada do evento, que incluiu trabalho de campo e simulações computacionais, revelou o grau de vulnerabilidade das ilhas em face do avanço do mar.
Modelagem aponta cenário alarmante
Para prever cenários futuros, os cientistas simularam 158 eventos de tempestade registrados entre 1990 e 2023, usando o modelo XBeach, desenvolvido pelo Deltares com apoio internacional. Apenas um desses eventos causaria inundações nas condições atuais – o de 2022. No entanto, com a elevação do nível do mar prevista para 2050, nove desses eventos passariam a causar inundações, ampliando drasticamente a frequência do risco.
A pesquisa foi publicada na revista científica Coastal Futures e integra o projeto ARISE, financiado pelo órgão britânico UK Research and Innovation, com investimento de £ 2,8 milhões (R$ 19 milhões).
Ameaça às nações insulares
O professor Gerd Masselink, líder do estudo, afirmou que ilhas de baixa altitude como as Maldivas estão entre os locais mais ameaçados pela elevação do mar. “Quando há inundações, elas são disruptivas e potencialmente perigosas”, destacou. Masselink também observa que, em certos casos, o acúmulo de areia e detritos pode elevar o terreno da ilha, oferecendo alguma resiliência — embora isso não elimine a necessidade de medidas de adaptação mais estruturais.
Já o pesquisador Robert McCall, especialista em inundações costeiras da Deltares, reforçou que o estudo oferece subsídios importantes para que governos e formuladores de políticas públicas planejem estratégias de proteção mais eficazes.
Adaptação é urgente
O relatório defende que autoridades nas Maldivas e em outras nações insulares com baixa altitude atuem com urgência para avaliar e implementar soluções adaptativas. Essas medidas são vistas como fundamentais para mitigar os impactos negativos das enchentes sobre populações vulneráveis e infraestruturas críticas.
Embora o estudo não tenha considerado mudanças naturais ou humanas nas próximas décadas, a conclusão do estudo é: se nada for feito, o que hoje é uma exceção poderá se tornar a regra em poucas décadas.






