Um professor aposentado australiano acaba de se tornar o protagonista de uma das descobertas paleontológicas mais importantes do ano. Segundo reportagem do The Guardian, Robert Beattie, de 82 anos, identificou o mais antigo fóssil de maruim já encontrado no hemisfério Sul: um inseto de 151 milhões de anos que altera a compreensão científica sobre como esses animais evoluíram.
O achado, descrito em um estudo publicado na revista Gondwana Research, foi feito em Talbragar, região central de Nova Gales do Sul, e reabre a discussão sobre a origem dos insetos. Beattie, que passou dez anos coletando fósseis no local, dedicou a vida à paleontologia depois de se aposentar do magistério. A coleção que reuniu acabou revelando um tesouro científico que estava à vista, mas ainda sem explicação.
Uma descoberta que muda o mapa da evolução
A importância do achado só foi reconhecida quando Beattie apresentou seus fósseis em uma conferência na Escócia, chamando a atenção do paleontólogo Viktor Baranov, do Doñana Biological Station, na Espanha. Ao lado do pesquisador Matthew McCurry, do Museu Australiano, Baranov identificou que as amostras pertenciam a uma nova espécie de maruim não hematófago — insetos que se alimentam de néctar, e não de sangue.
Até agora, os registros mais antigos da subfamília Podonominae vinham da China e da Sibéria, reforçando a tese de uma origem no supercontinente Laurasia, ao norte. A descoberta australiana, porém, aponta na direção oposta: os insetos podem ter surgido em Gondwana, no hemisfério sul. “Esse maruim é uma prova de que ainda há muito a descobrir nas regiões menos estudadas”, disse McCurry ao Guardian.
O Sul entra no mapa dos fósseis
Cerca de 80% da diversidade atual dos Podonominae se concentra no hemisfério Sul, o que reforça a nova hipótese. Para McCurry, o caso expõe um desequilíbrio histórico nas pesquisas fósseis, concentradas no norte. “Quando olhamos para o Sul, encontramos fósseis capazes de corrigir parte dessa história”, afirmou.
O inseto foi batizado de Telmatomyia talbragarica, termo que significa “mosca das águas paradas”. Beattie, agora pesquisador associado do Museu Australiano, continua ativo e planeja novas expedições no interior de Nova Gales do Sul. Questionado sobre o impacto de sua descoberta, respondeu com simplicidade: “Ah, todos nós encontramos coisas assim. As pessoas descobrem de tudo por aí.”





