Um novo segmento do mercado digital vem ganhando força: sites de namoro com namoradas geradas por inteligência artificial. Segundo reportagem do The Guardian, essas plataformas prometem substituir o modelo tradicional da indústria adulta com alternativas que alegam ser mais seguras e éticas.
No entanto, críticos apontam que os serviços reforçam modelos de submissão feminina e levantam preocupações sobre o impacto sociocultural dessas interações simuladas.
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Interações digitais e promessas de “segurança”
Em conferências recentes do setor, como a TES, realizada em Praga, observou-se um aumento expressivo no número de sites voltados a relacionamentos com personagens femininas criadas por IA. As usuárias simuladas interagem por texto, voz, fotos e vídeos, oferecendo experiências de namoro ou conteúdo explícito sob demanda, mediante pagamento de mensalidades ou tokens virtuais.
Desenvolvedores afirmam que o modelo representa uma evolução ética do mercado adulto. Por não envolver pessoas reais, dizem, evita-se a exploração e os abusos frequentemente associados a partes da indústria tradicional. “Você nunca terá uma garota de IA traficada ou coagida a uma cena humilhante”, afirmou Steve Jones, responsável por um desses sites, em declaração reproduzida pelo jornal inglês.
Estereótipos programados: submissão como padrão
Embora apresentem um discurso de inovação e bem-estar, as plataformas oferecem opções de personagens baseadas em estereótipos. Em muitos dos sites, os perfis disponíveis são majoritariamente de mulheres jovens, brancas e sorridentes, com profissões e traços de personalidade pré-definidos. Entre os atributos possíveis, estão categorias como “submissa: obediente, dócil e feliz em seguir ordens” e “inocente: otimista e ingênua”.
Usuários podem personalizar aspectos físicos e de comportamento das “namoradas virtuais”, o que, segundo especialistas, pode reforçar ideias nocivas sobre papéis femininos. A escritora Laura Bates, citada pelo The Guardian, alerta que essas tecnologias não apenas refletem, mas perpetuam “companheiras programadas para serem dóceis e dizerem o que o usuário quer ouvir”.
Zona cinzenta entre fantasia e realidade
Outro ponto de atenção refere-se à dificuldade de delimitar os limites éticos dessas interações. Muitos dos sites permitem configurar as personagens com idade reduzida e trajes escolares, o que acende o alerta para práticas potencialmente ilegais ou socialmente condenáveis. Desenvolvedores alegam que sistemas de moderação automática estão sendo aprimorados para bloquear conteúdo inapropriado, mas organizações de direitos humanos mantêm preocupações sobre a eficácia dessas medidas.
Além disso, ao promover relações simuladas sob controle total do usuário, questiona-se o impacto psicológico e social desse tipo de vínculo. As experiências oferecidas por essas plataformas não exigem empatia, reciprocidade ou consentimento, elementos fundamentais das relações humanas, o que pode influenciar negativamente o comportamento interpessoal fora do ambiente virtual.