Ele é muçulmano nascido em Uganda, tem 34 anos, 4,9 milhões de seguidores no Instagram, 1,8 milhão no TikTok, e é apontado como favorito nas eleições para a prefeitura da cidade de Nova York, nos Estados Unidos, que acontecem nesta terça-feira (4). Estamos falando do deputado Zohran Mamdani, que se descreve como um socialista democrata e que usou as redes sociais como estratégia política para ganhar projeção.
Nas redes, frases de efeitos e vídeos elaborados estão espalhados por seu feed. Nada que lembre as tradicionais propagadas eleitorais. No TikTok, por exemplo, um de seus vídeos fixados, com 1,3 milhão de visualizações, mostra ele percorrendo toda a extensão de Manhattan de forma descontraída, com nova-iorquinos cumprimentado o político, tirando foto, o abraçando e até aplaudindo.
Segundo Thiago de Aragão, CEO da Arko Internacional em Washington e pesquisador senior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington, usar redes sociais em campanhas não é uma novidade, com Obama fazendo isso de forma pioneira em 2008, e AOC (Alexandria Ocasio-Cortez), deputada democrata, virando símbolo dessa virada digital ao usar ativamente as redes para responder dúvidas, críticas e engajar.
“Mas o que o Zohran fez foi levar isso a um outro patamar, quase como se fosse um criador de conteúdo nativo que resolveu disputar uma prefeitura. Ele entendeu as linguagens específicas de cada plataforma e adaptou a mensagem política para caber ali, sem parecer um político tentando ser descolado. Isso, sim, é inovador”, diz ele. “É [uma estratégia] nova no sentido da intensidade e sofisticação com que foi aplicada”.
Para Aragão, a vitória dele nas prévias democratas, contra o veterano político Andrew Cuomo, passa quase que integralmente por essa estratégia. “Ele soube construir um personagem público rápido, com alto grau de identificação entre os eleitores mais jovens, especialmente nas zonas urbanas. A base digital não substitui o trabalho de base real, mas, no caso dele, foi o gatilho que tornou esse trabalho possível. Se ele não tivesse os milhões de visualizações e engajamento nas redes, talvez nem estivesse no radar do partido”, afirmou.
Para o professor e cientista político Gustavo Macedo, especialista em relações internacionais, Mamdani está tentando usar uma linguagem mais acessível, menos carregada, para tentar desarmar alguns eleitores. E isso parece estar gerando um incômodo na política tradicional. Macedo cita, como exemplo, a frase de Trump após a vitória confirmada nas prévias. Em sua rede social, Truth Social, o presidente dos Estados Unidos afirmou que não deixará Mamdani “destruir NY”.
“Como presidente dos Estados Unidos, não vou deixar esse lunático comunista destruir Nova York. Fiquem tranquilos, eu tenho todos os controles e todas as cartas na mão. Vou salvar a cidade e torná-la ‘quente’ e ‘grandiosa’ novamente, exatamente como fiz com os bons e velhos EUA”.
Segundo Macedo, o incômodo se deve ao fato de NY ser um grande palco político, não apenas nacional, mas de projeção global. Além disso, essa jovem liderança pode vir ameaçar Trump e o partido republicano no futuro.
Denilde Holzhacker, professora do curso de Relações Internacionais da ESPM, diz que Mamdani mirou nos mais novos, mas terá desafios. “Ele fez uma estratégia muito voltada para o público jovem. E um discurso muito voltado para atrair os descontentes com o Trump. Mas terá um desafio que é manter o discurso de esquerda em um embate com os republicanos”.
Nova regra do jogo
Aragão diz que essa forma de comunicação é mais que uma tendência, é a nova regra do jogo.
Para ele, os políticos vão precisar parar de “falar com” os eleitores e começar a “conversar com” eles. “As redes não são palanque, são praças públicas. Não adianta só postar vídeo bem editado, tem que estar disposto a responder, engajar, ouvir críticas. O político que entender isso vai sair na frente. Não é só sobre estética: é sobre formar comunidade, gerar pertencimento e tornar o eleitor parte da construção da campanha. Zohran sacou isso antes dos outros”, disse.
Holzhacker concorda que é preciso ter uma identificação. “Muitos políticos estão tentando se aproximar desta estratégia, mas nem sempre com sucesso. Isso porque precisa se identificar com esse eleitor”, diz a professora.






