A vereadora e ativista Marielle Franco se tornou a primeira figura pública brasileira a receber a Medalha W.E.B. Du Bois, a mais alta honraria concedida pela Universidade de Harvard, no campo dos Estudos Africanos e Afro-Americanos. A homenagem póstuma acontece nesta terça-feira (4).
Entre as latino-americanas, ela aparece como segunda a vencer a premiação, atrás apenas da vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, ganhadora no ano passado.
A medalha é concedida pelo Instituto de Pesquisas Afrolatino-Americanas a pessoas que contribuem para o fortalecimento cultural e intelectual das populações africanas e afrodescendentes no mundo. A medalha carrega o nome do sociólogo e historiador estadunidense, W.E.B. Du Bois, um dos ativistas mais importantes do movimento negro e o primeiro homem negro a fazer Doutorado em Harvard.
Nascida em 1979, no Complexo de Favelas da Maré, zona norte carioca, Marielle se tornou uma das figuras mais emblemáticas na luta pelos direitos civis, ao combater a violência de Estado em regiões periféricas. Além disso, aderiu às agendas da comunidade LGBTQIAPN+ e de mulheres negras.
Legado que ultrapassa fronteiras
Filha da vereadora, Luyara Franco, atual diretora executiva da Central de Movimentos Populares do Instituto Marielle Franco, entidade criada após o assassinato, exalta a importância do reconhecimento.
“Quando uma instituição de renome mundial reconhece essa trajetória, ela também reconhece a potência de uma produção intelectual que nasce da favela e que, ainda assim, tem impacto global. O legado da minha mãe ultrapassa fronteiras e continua inspirando o mundo inteiro a lutar por justiça, democracia e igualdade. E, acima de tudo, reafirma o quanto é urgente valorizarmos a intelectualidade de mulheres negras e de pessoas que, como minha mãe, Marielle, ousaram pensar em outro futuro possível”.
A história de Marielle Franco saiu das comunidades para a cena política em 2016, quando se elegeu vereadora no Rio. Ela ganhou reconhecimento mundial, recebendo inclusive convite, em abril de 2018, para um simpósio em Harvard, evento que não chegou a participar.
Seis semanas antes, em 14 de março daquele ano, a vereadora e seu motorista, Anderson Gomes, foram assassinados. O caso gerou comoção e a pergunta “QUEM MATOU MARIELLE” ultrapassou nossas fronteiras.
Após longa investigação foram identificados os executores. Ex-policiais militares, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram condenados a 78 e 59 anos de prisão, respectivamente.
Já os acusados de serem os mandantes, respondem uma ação penal que tramita no Supremo Tribunal Federal, ainda em fase de instrução e sem data prevista para o julgamento.
São eles os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, tradicionais nomes da política do estado; e o ex-chefe da Polícia-Civil, Rivaldo Barbosa.



