Entre debates sobre tarifas comerciais e corrida tecnológica entre Estados Unidos e China, o Web Summit – maior evento de tecnologia europeu – começa em Lisboa com uma programação representativa da nova era da inteligência artificial (IA).
Depois da febre dos chatbots e do protagonismo das big techs no tema, a edição deste ano destaca o que os novos talentos do setor têm a dizer. O festival começa nesta segunda-feira e vai até 13 de novembro.
A atenção se volta para os fundadores dos “unicórnios” de IA, startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Essas empresas cresceram rápido ao lançar agentes capazes de executar tarefas diárias sozinhos e ferramentas de “vibe coding”, que permitem criar sites e aplicativos apenas conversando com uma IA.
Mais de 70 mil participantes devem passar pelos pavilhões da MEO Arena, em Lisboa, durante os quatro dias de programação. Com mais de mil investidores presentes, o evento é um ponto de conexão entre startups e quem financia inovação.
Agentes de IA e ‘vibe coding’
Um dos painéis mais aguardados é o do sueco Anton Osika, CEO da Lovable, plataforma que permite que qualquer pessoa crie um site simples em minutos, só com comandos de texto. A solução foi tão bem recebida pelo mercado que, em oito meses, a Lovable chegou a um faturamento anual de US$ 100 milhões, um crescimento mais rápido que o da OpenAI, do ChatGPT. Hoje, já vale US$ 4 bi.
Na noite de abertura, Osika deve comentar sobre os bastidores desse avanço e o que vem depois disso. Também sobem ao palco nesta segunda-feira a diretora de assuntos corporativos da IBM, Sarah Meron, o diretor global de produtos da Visa, Mark Nelsen, além da tenista Maria Sharapova e do influenciador Khaby Lame.
Outros nomes de peso no evento são Michele Catasta, presidente e chefe de IA da Replit, e Tao Zhang, cofundador da Manus AI. Catasta deve mostrar como sua plataforma – hoje avaliada em US$ 3 bi – ficou popular entre desenvolvedores adeptos ao “vibe coding”, que aceleram a criação de programas com IA.
Já Zhang apresentará seu agente de IA capaz de pesquisar, executar tarefas e tomar decisões sem depender de prompts a todo tempo. Sua presença no evento, inclusive, não é por acaso. A Butterfly Effect, startup dona da Manus AI, ganha atenção no Ocidente desde que o fenômeno DeepSeek abriu as portas para uma nova geração de empresas chinesas.
Palco dedicado à China
De olho na influência do país asiático sobre a inovação global, o Web Summit terá, pela primeira vez, um palco específico dedicado à China. O “China Summit” reunirá cinco debates que vão da educação à geopolítica.
Entre os destaques estão a doutora Joleen Liang, da Squirrel AI, que apresentará como a IA está personalizando a educação na China, e Jenny Zeng, da MSA Capital, que abordará o papel dos fundos chineses na expansão de startups pelo mundo.
Outro painel discutirá as tensões entre China, Estados Unidos e União Europeia, e por que tentar desvincular essas economias pode ser uma estratégia em que todos saem perdendo.
Tarifas de Trump e geopolítica marcam evento
No ano em que Donald Trump voltou à Casa Branca e acelera sua agenda protecionista, o impacto das tarifas e o acirramento da corrida tecnológica entre as duas maiores potências mundiais devem dominar parte das discussões. O chamada “chiponomics” (poder dos semicondutores na disputa global) e o avanço da infraestrutura para IA, com painéis sobre data centers e custo da energia, também estão entre os temas centrais.
O público pode esperar anúncios da Visa e da Qualcomm, esta última comandada pelo brasileiro Cristiano Amon. Também participam Keily Blair, CEO da OnlyFans, Khartoon Weiss, vice-presidente de soluções globais de Negócios do TikTok, e Scott Belsky, diretor de produtos da Adobe.
Presença brasileira
Ao menos 2.643 startups participarão da edição do evento deste ano, número ligeiramente superior ao da edição anterior. Como de costume, o Brasil marcará presença com uma delegação robusta. Serão 340 startups brasileiras, sendo 256 selecionadas pela ApexBrasil e pelo Sebrae e outras 84 por instituições parceiras como Softex, Anprotec e Serpro. No ano passado, a Apex levou 226.
Em junho de 2026, será a vez do Rio de Janeiro receber nova edição do Web Summit. A cidade caminha para a sua quarta conferência, com contrato para sediar o evento até 2030, conforme publicou a coluna Capital.





