Uma pesquisa recente liderada por cientistas da Universidade Yonsei, na Coreia do Sul, aponta para um possível freio na expansão do universo, um resultado que, se confirmado, pode exigir uma revisão profunda das bases da cosmologia moderna. O estudo, publicado no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society e divulgado pelo portal ScienceDaily, questiona diretamente a teoria amplamente aceita de que o universo está se expandindo aceleradamente.
Essa hipótese de expansão acelerada foi estabelecida nos anos 1990 com base em observações de supernovas do tipo Ia, fenômenos luminosos que servem como “velas padrão” para medir distâncias cósmicas. Esses dados sustentaram a noção da chamada “energia escura”, uma força invisível e ainda pouco compreendida que representaria cerca de 70% do cosmos e atuaria como um tipo de antigravidade.
O papel das supernovas e o viés da idade estelar
O novo estudo traz uma reinterpretação dessas observações. Os pesquisadores sul-coreanos identificaram um viés importante: supernovas originadas de estrelas mais jovens tendem a parecer mais fracas do que aquelas geradas por estrelas mais velhas, mesmo após ajustes padrão de luminosidade.
Esse fator, segundo os autores, foi subestimado nas análises anteriores. Ao corrigir esse viés de idade usando dados de 300 galáxias hospedeiras, os pesquisadores concluíram que as medições de supernovas não sustentam mais a ideia de uma aceleração constante da expansão cósmica.
Com a correção aplicada, os dados não se alinham ao modelo ΛCDM, o paradigma atual que parte do pressuposto de que a energia escura é constante. Em vez disso, os resultados estão mais próximos de modelos mais recentes, sustentados por análises do projeto Dark Energy Spectroscopic Instrument (DESI). Esses modelos consideram que a energia escura não é constante, mas sim variável e enfraquecida com o tempo.
Ao cruzar os dados corrigidos com informações sobre oscilações acústicas de bárions (BAO) e radiação cósmica de fundo (CMB), os cientistas observaram um padrão consistente: a expansão do universo parece já ter entrado numa fase de desaceleração, contrariando a expectativa predominante de que ainda estaria em aceleração.
As implicações para a cosmologia
Se confirmadas, essas descobertas representam uma mudança de paradigma semelhante à revelação inicial da existência da energia escura, há 27 anos. “Nosso estudo mostra que o universo já entrou em uma fase de expansão desacelerada na época atual e que a energia escura evolui com o tempo de maneira muito mais rápida do que se pensava”, disse o professor Young-Wook Lee, líder do estudo, em declaração ao ScienceDaily.
O grupo está realizando um novo teste com galáxias coevas, compostas por estrelas da mesma idade, para eliminar qualquer efeito evolutivo nos dados. Os resultados preliminares confirmam a desaceleração observada.
A perspectiva de novas descobertas é promissora. Com o início das operações do Observatório Vera C. Rubin, no Chile, que abriga a maior câmera digital já construída, espera-se identificar mais de 20 mil novas galáxias hospedeiras de supernovas nos próximos cinco anos. Isso permitirá testes ainda mais robustos sobre a natureza da energia escura e a evolução do universo.
A esperança é que, com dados de maior precisão e menos viés, a ciência possa se aproximar de uma resposta para uma das questões mais fundamentais da física moderna: o que, afinal, está ditando o ritmo do universo?





