Sempre que é realizada uma cirurgia em um hospital, os médicos envolvidos devem preencher e assinar um relatório descrevendo detalhes sobre o paciente, o diagnóstico, técnicas e materiais utilizados durante o procedimento e eventuais intercorrências. Trata-se de um documento obrigatório crucial para a continuidade do cuidado, segurança do paciente e comunicação eficaz entre os profissionais de saúde.
No entanto, a elaboração do relatório pós-cirúrgico é desafiadora. Além do tempo gasto no processo, a qualidade dos dados e sua padronização pode ser comprometida visto que são muitos os detalhes a serem lembrados pelo cirurgião. Ou seja, muita informação pode ser confundida ou perdida.
Diante deste desafio, a Santa Casa de São Paulo, referência no atendimento pelo SUS, decidiu transformar a rotina de seu centro cirúrgico com ajuda de uma inteligência artificial, tornando-se pioneira no país a adotar uma tecnologia inédita neste ambiente hospitalar de alta complexidade.
“A Santa Casa tem uma cultura de inovação que permite aos colaboradores trazer ideias e as principais necessidades de melhoria em suas respectivas áreas. E no topo de nossa lista hoje está melhorar a eficiência dos processos dentro do centro cirúrgico, um ambiente crítico em que cada minuto é muito valioso em termos de custo”, afirma a Dra. Maria Dulce Cardenuto, superintendente da Santa Casa de São Paulo.
Batizada de Lya, a tecnologia foi cocriada entre o hospital e a empresa de tecnologia CTC, e é capaz de gerar relatórios e prontuários pós-cirúrgicos de forma automática. Em teste desde outubro, a ferramenta reduziu o tempo do processo que antes levava cerca de 1h30 para apenas 10 minutos. A solução proporcionou ainda 43% de redução no tempo de jornada médica e 80% na documentação, com 96% de aprovação dos profissionais.
Segundo Cardenuto, a implementação será gradual, começando em salas específicas e avançando até contemplar as cerca de duas mil cirurgias mensais do hospital, entre procedimentos eletivos e emergenciais. O cronograma prevê seis meses de desenvolvimento e testes, seguidos por mais seis meses de implantação assistida.
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Como funciona a Lya
O sistema funciona por meio de narração: médicos e equipe descrevem em tempo real cada etapa do procedimento, enquanto a inteligência artificial identifica e registra apenas as informações relevantes, filtrando conversas paralelas.
A tecnologia gera automaticamente uma transcrição treinada com termos médicos e organiza os dados de forma estruturada, permitindo que, ao final, o médico apenas revise e valide o registro. De forma complementar, a solução monitora insumos e medicamentos utilizados, evitando falhas de cobrança e reforçando a segurança do paciente.
Como explica o CEO da CTC, Valter Lima, originalmente, a empresa de tecnologia havia criado a solução para consultas médicas, registrando automaticamente a conversa entre médico e paciente. A partir da demanda apresentada pela Santa Casa, surgiu o desafio de adaptar a tecnologia ao ambiente cirúrgico e desenvolver uma nova versão.
“Quando falamos de tecnologia em saúde, ela precisa ser tangível e trazer resultados concretos no momento em que é utilizada. Nosso objetivo com a Lya é torná-la acessível e aplicável ao dia a dia da saúde”, diz Lima.





