Viver mais é uma obsessão do ser humano. Durante o século XX, os avanços médicos acrescentaram 30 anos à expectativa de vida, e isso se reflete no número cada vez maior de centenários ao redor do mundo. Mas será que algum dia veremos as pessoas celebrando 150 anos?
Para Stephen Austad, pesquisador de biologia do envelhecimento na Universidade do Alabama em Birmingham, dos Estados Unidos, a resposta é sim. Ele crê tanto nisso que apostou em 2000 que a primeira pessoa a chegar aos 150 anos já estaria viva. Jay Olshansky, pesquisador de longevidade da Universidade de Illinois em Chicago, garante que essa é uma ideia fantasiosa.
“Em 1990, meus colegas e eu previmos que o aumento da expectativa de vida diminuiria, à medida que mais pessoas vivessem o suficiente para serem expostas à força imutável do envelhecimento”, disse Olshansky à revista Nature, acrescentando que o corpo humano já foi levado ao limite pela medicina convencional. “Enquanto o envelhecimento permanecer inalterado, não é possível estender muito além do ponto em que estamos hoje.”
Segundo ele, o único caminho para um aumento radical da expectativa de vida humana é desacelerar o próprio processo de envelhecimento. “Estou muito otimista de que seremos capazes de desacelerar o processo biológico do envelhecimento. Acho que isso acontecerá durante nossa vida.”
A gerociência, uma área focada em desvendar as mudanças biológicas que tornam nossas células, tecidos e órgãos mais propensos a doenças como câncer, doenças cardiovasculares e distúrbios neurodegenerativos à medida que envelhecemos, talvez traga as respostas. E muitas pesquisas estão em andamento.
Uma delas se concentrada no estudo de centenários que se mantiveram naturalmente em forma e saudáveis muito além da expectativa média de vida. Outra em animais alimentados com uma dieta com restrição calórica severa, e que se constatou que vivem mais tempo .
A Nature destaca que diversos processos identificados em animais submetidos à restrição calórica também foram observados em centenários humanos saudáveis. Um deles, observado por Leonard Guarente, pesquisador de biologia do envelhecimento, e seus colegas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), apontou para a importância de um conjunto de genes e proteínas associadas chamadas sirtuínas.
As sirtuínas desempenham um papel na manutenção e no reparo do DNA, mas dependem de uma molécula chamada NAD +, que diminui naturalmente com a idade. Em camundongos idosos, suplementos alimentares que aumentam os níveis celulares de NAD + podem impulsionar a atividade das sirtuínas e prolongar a saúde e a longevidade.
Outro caminho para aumentar a expectativa de vida é acabar com a inflamação crônica – hiperativação do sistema imunológico que envolve uma interação complexa de moléculas sinalizadoras chamadas citocinas. E há muitos trabalhos sobre o tema.
Mas tudo isso, por enquanto, estão no campo das pesquisas e sem testes em humanos. E não há garantias que os promissores resultados em camundongos também se deem em pessoas de carne e osso. Para pontuou que uma das razões para a baixa taxa de sucesso na transposição dos resultados positivos de estudos com animais para humanos reside na forma como esses estudos são conduzidos.
O ponto é que os animais de laboratório são mantidos constantemente aquecidos, bem alimentados e protegidos de patógenos. “Essa situação artificial nos levou a uma compreensão completamente equivocada de como os tratamentos se traduzirão no mundo real”, apontou.
Reaproveitamento
Segundo a Nature, diversas abordagens antienvelhecimento reaproveitam medicamentos já existentes, em vez de buscar novos. Dois deles estão sendo bastante estudados: metformina (usado no tratamento do diabetes) e rapamicina (imunossupressor que inibe um sensor celular de nutrientes que controla o crescimento e o reparo celular).
Zahida Sultanova, pós-doutoranda da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, que estuda fatores que afetam o envelhecimento, publicou em 2024, junto com colegas, uma meta-análise de 167 estudos com animais avaliando os impactos das druas drogas na expectativa de vida em comparação com a restrição calórica. A análise constatou que a restrição calórica proporcionou o maior e mais consistente aumento na expectativa de vida, seguida de perto pela rapamicina. A metformina não demonstrou nenhum benefício claro.
Austad ficou bastante entusiamado com a rapamicina, mas observou que a maioria dos dados ainda provém de estudos com animais. “Hoje, estou muito otimista em relação ao GLP-1, porque todas as evidências promissoras vêm de estudos com humanos, disse. “Parece que toda semana surge um novo benefício.”
Andrea Maier, pesquisadora de envelhecimento saudável da Universidade Nacional de Singapura afirmou que há uma clara necessidade de mais terapias antienvelhecimento baseadas em evidências, e que os maiores benefícios virão quando for identificado o melhor tratamento antienvelhecimento para cada indivíduo. “Pelo ritmo diferente com que as pessoas ficam grisalhas ou perdem massa muscular, sabemos que todos envelhecemos de forma diferente”, indicou. “Vivemos na era da medicina de precisão, então por que não implementá-la nessa nova especialidade?”
5 hábitos para aumentar a idade biológica
Enquanto todas os estudos não se transformam em tratamentos no mundo real, vale saber que existem muitas atitudes simples que qualquer pessoa pode adotar para, além de aumentar a idade cronológica, aumentar a biológica, que se refere ao funcionamento dos sistemas internos do organismo. O The Conversation listou cinco maneiras cientificamente comprovadas de fazer isso. Confira:
1- Pratique atividade física
Se exercitar regularmente ao longo da vida reduz o risco de morte por todas as causas, aumentando diretamente a longevidade. As atividades físicas afetam um processo chamado metilação do DNA, que controla se certos genes estão “ligados” ou “desligados”. Se movimentar ajuda a retardar esse processo, permitindo que os genes responsáveis por funções essenciais do corpo continuem atuando por mais tempo.
2- Tenha uma alimentação saudável
Alimentação saudável significa ter um consumo maior de de frutas, vegetais, grãos integrais, nozes, leguminosas, peixes, proteínas magras e gorduras boas (como azeite), e reduzir a ingestão de carne vermelha, gordura saturada, açúcares adicionados e sódio. O The Conversation destaca que esse hábito fornece antioxidantes, vitaminas e compostos anti-inflamatórios que ajudam as células a reparar danos e reduzem o estresse sobre o DNA. Além disso, influenciam a metilação do DNA.
3- Melhore os hábitos de sono
Ter uma boa noite de sono permite que o organismo repare o DNA, restaure o equilíbrio hormonal, reduza a inflamação e elimine resíduos celulares, ajudando os sistemas imunológico, metabólico e nervoso a permanecerem jovens e resistentes. Para se ter uma ideia da sua importância, uma revisão mostrou que pessoas que dormem menos de cinco horas por noite têm risco significativamente maior de desenvolver doenças relacionadas à idade, como diabetes, doenças cardíacas, câncer e demência.
4- Evite vícios prejudiciais
Quer viver mais e melhor, evite fumar, incluindo cigarros eletrônicos, e consumir álcool. Esses hábitos aceleram o envelhecimento biológico porque danificam diretamente o DNA, aumentam a inflamação e sobrecarregam as células com estresse, obrigando o corpo e os órgãos a trabalharem mais.
5- Gerencie o estresse
O estresse pode acelerar o envelhecimento biológico ao afetar a resposta hormonal, danificar o DNA e reduzir a imunidade. Também pode indiretamente influenciar outros fatores que aceleram o envelhecimento, como dieta, sono e consumo de álcool ou tabaco. Por isso, é essencial ter mecanismos positivos para lidar com o estresse.






