O planeta atingiu sua primeira grande catásprofe climática, segundo um relatório divulgado por 160 cientistas de 23 países. O estudo alerta que os recifes de corais de águas quentes enfrentam um colapso generalizado e irreversível consequência direta do aquecimento global causado por emissões de gases de efeito estufa, segundo informações do The Guardian.
A pesquisa, intitulada Global Tipping Points, foi liderada pela Universidade de Exeter e contou com financiamento do fundo de Jeff Bezos, fundador da Amazon. O documento identifica que esse colapso já está em curso, e alerta que outros pontos de inflexão estão próximos, como o recuo da floresta amazônica, a interrupção de correntes oceânicas e o derretimento de calotas polares.
Um alerta global para os recifes
Os recifes de corais são considerados um dos ecossistemas mais sensíveis às mudanças climáticas. Abrigam cerca de 25% de todas as espécies marinhas e sustentam a vida de centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo, seja por meio da pesca, do turismo ou da proteção costeira.
Desde janeiro de 2023, o planeta enfrenta o quarto (e mais severo) evento global de branqueamento de corais já registrado. Segundo os cientistas, mais de 80% dos recifes, em mais de 80 países, foram afetados por temperaturas oceânicas extremas. Esse processo, conhecido como branqueamento, ocorre quando os corais expelem as algas simbióticas que lhes fornecem energia, perdendo cor e podendo morrer em seguida.
O relatório estima que os recifes atingem um ponto crítico quando as temperaturas globais ficam entre 1 °C e 1,5 °C acima dos níveis da era pré-industrial, com estimativa central de 1,2 °C. Atualmente, o aquecimento global já alcança cerca de 1,4 °C.
Impactos em escala humana e ambiental
De acordo com o professor Tim Lenton, do Global Systems Institute da Universidade de Exeter, a morte generalizada dos recifes já está afetando milhões de pessoas que dependem diretamente desses ecossistemas. “Não podemos mais tratar os pontos de inflexão como um risco futuro. O primeiro já está em andamento”, afirmou Lenton ao The Guardian.
O relatório destaca ainda a situação crítica dos recifes no Caribe, onde ondas de calor marinhas, baixa diversidade biológica e surtos de doenças têm levado essas formações a um estágio próximo do colapso.
Embora o relatório aponte para a perda em grande escala dos recifes, nem todos os especialistas concordam com a ideia de que esse ponto de inflexão seja totalmente irreversível. Há pesquisadores que acreditam que, mesmo em temperaturas elevadas, alguns corais podem resistir e até se recuperar, embora essa visão ainda seja minoritária no consenso científico atual.
No entanto, o alerta principal do estudo permanece: sem reduções rápidas e drásticas nas emissões de gases de efeito estufa, a elevação da temperatura global deve ultrapassar 1,5 °C na próxima década, patamar amplamente reconhecido como limite crítico para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas.
O colapso dos recifes de corais é um sinal grave de que o planeta já está enfrentando consequências irreversíveis da crise climática. Para os cientistas envolvidos, o desafio agora é frear a progressão de outros pontos de inflexão e evitar impactos ainda mais profundos em ecossistemas e economias.
O relatório enfatiza que, sem um esforço coordenado para restaurar o equilíbrio climático – incluindo a redução das temperaturas para níveis próximos de 1,2 °C, os recifes tropicais desaparecerão “em escala significativa”.