O avanço acelerado da inteligência artificial tem moldado cada vez mais o cotidiano de crianças e adolescentes. Ferramentas como o ChatGPT, entre outras baseadas em modelos de linguagem de larga escala, estão sendo utilizadas para fins educacionais e recreativos — mas o uso frequente levanta preocupações sobre seus efeitos no desenvolvimento cognitivo das gerações mais jovens.
Segundo reportagem da CNBC, pesquisadores e educadores têm observado um fenômeno crescente: jovens estão recorrendo a assistentes virtuais para responder perguntas, resolver tarefas escolares e até como companhia digital. Essa dependência pode levar à redução do esforço mental necessário para construir argumentos, analisar informações e tomar decisões de forma autônoma.
Pesquisa aponta perda de engajamento cognitivo
Um estudo preliminar conduzido pelo Media Lab do MIT em 2025 analisou o impacto do uso de inteligência artificial na escrita de textos. Os participantes foram divididos em três grupos: um utilizou um chatbot, outro um mecanismo de busca e o terceiro escreveu sem auxílio digital. A pesquisa constatou que o grupo que contou com IA apresentou menor conectividade neural, evidência de redução no engajamento cognitivo durante a tarefa.
A pesquisadora Nataliya Kosmyna, responsável pelo estudo, afirmou que o uso frequente de assistentes artificiais pode resultar em “dívida cognitiva”, um acúmulo de dependência que compromete o desenvolvimento da criatividade e aumenta a vulnerabilidade a informações falsas. “A conveniência de hoje terá um custo no futuro”, disse ela à CNBC.
De acordo com o Pew Research Center, 26% dos adolescentes norte-americanos com idades entre 13 e 17 anos utilizaram o ChatGPT para fazer trabalhos escolares em 2024, o dobro da taxa registrada no ano anterior. A conscientização sobre a ferramenta também subiu de 67% para 79% no mesmo período.
Esse aumento levou autoridades regulatórias a agir. Em setembro, a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos solicitou explicações de empresas como OpenAI, Alphabet e Meta sobre os possíveis efeitos dos chatbots em crianças e adolescentes. Em resposta, a OpenAI anunciou a criação de um ambiente dedicado a menores de 18 anos, com controles parentais e políticas apropriadas à idade.
Riscos cognitivos e sociais
Pesquisadores alertam que crianças estão particularmente expostas aos efeitos negativos do uso prematuro da IA. Além da redução da autonomia intelectual, há riscos associados à privacidade, à segurança digital e ao desenvolvimento emocional. A professora de psicologia Pilyoung Kim, da Universidade de Denver, destacou que crianças têm maior propensão a atribuir características humanas a máquinas, o que pode gerar laços de confiança indevidos com essas tecnologias.
Segundo ela, limitar o acesso a essas ferramentas em idades precoces é essencial. “Crianças pequenas precisam de mais oportunidades para pensar de forma crítica e independente”, afirmou Kim.
Para enfrentar esse desafio, os especialistas recomendam uma abordagem baseada na educação tecnológica e no uso consciente das ferramentas digitais. Kosmyna defende que o aprendizado de habilidades básicas deve vir antes da automação. “Desenvolva a habilidade primeiro, mesmo que você não se torne um especialista”, aconselha. Isso permitiria aos jovens identificar erros nos conteúdos gerados pela IA e reforçar sua capacidade crítica.
Além disso, é fundamental ensinar não apenas o uso da IA, mas também conceitos de higiene digital e segurança online. Segundo Kosmyna, crianças precisam entender os limites dessas tecnologias e como utilizá-las com responsabilidade.