Após dois anos de guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, entrou em vigor na última sexta-feira um cessar-fogo baseado em um plano de 20 pontos apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, que prevê o desarmamento do Hamas e exclui qualquer participação do movimento na futura administração do território palestino.
“Para o Hamas, o governo da Faixa de Gaza é uma questão resolvida. O grupo não participará de nenhuma forma na fase de transição, o que significa que renunciou ao controle da região, mas **continua sendo um elemento importante da sociedade palestina”, afirmou à AFP, sob anonimato, uma fonte próxima da equipe de negociadores do movimento.
Embora a liderança do Hamas tenha se mostrado dividida no passado em relação a temas-chave — especialmente sobre a administração futura de Gaza —, há consenso quanto à recusa em entregar as armas.
“O Hamas aceita uma trégua de longa duração e garante que suas armas não serão utilizadas durante esse período, exceto em caso de ataque israelense contra Gaza”, disse a mesma fonte. “A entrega das armas está completamente fora de questão e não é negociável”, reforçou outro dirigente do Hamas no sábado.
A primeira cláusula do plano apresentado pelos Estados Unidos determina que a Faixa de Gaza, sob domínio do Hamas desde 2007, se torne uma “zona desradicalizada e livre do terrorismo”, que não represente ameaça para os países vizinhos.
O plano também prevê que o Hamas não tenha qualquer papel político na futura governança de Gaza e que toda sua infraestrutura militar e arsenal sejam destruídos.
Durante uma fase de transição, a administração local ficará sob responsabilidade de um comitê palestino “tecnocrático e apolítico”, encarregado de gerir os serviços públicos.
A fonte ligada aos negociadores afirmou que a equipe pediu ao Egito, um dos principais mediadores, que convoque uma reunião até o fim da próxima semana para definir a composição desse comitê, acrescentando que a lista de nomes está quase finalizada.
“O Hamas, junto com outras facções, apresentou 40 nomes. Nenhum deles pertence ao Hamas, e não há vetos sobre os indicados”, disse a fonte.
Apesar disso, o papel do Hamas no pós-guerra ainda é incerto, já que o movimento anunciou, no sábado, que não participará da assinatura oficial do acordo de paz com Israel.
O cessar-fogo foi acertado na quinta-feira, no Egito, e entrou em vigor na sexta-feira, prevendo a libertação dos reféns mantidos em Gaza em até 72 horas em troca de prisioneiros palestinos detidos por Israel — 48 reféns, dos quais apenas 20 estariam vivos, seriam trocados por 1.950 prisioneiros palestinos.
O acordo segue o plano anunciado no fim de setembro pelo presidente Donald Trump, com o objetivo de encerrar dois anos de conflito na região.
O Hamas reconheceu, contudo, que um acordo de paz global e definitivo exigirá negociações muito mais complexas, previstas para a segunda fase do plano proposto pelos Estados Unidos.