Por mais de 70 anos, cientistas enfrentaram um dos maiores mistérios da astrofísica: por que a coroa solar, a camada mais externa da atmosfera do Sol, é tão mais quente do que sua superfície? Enquanto o “chão” solar mantém uma temperatura de cerca de 5.500 °C, a coroa pode atingir milhões de graus Celsius. Agora, uma equipe internacional de pesquisadores parece ter encontrado uma explicação convincente.
O estudo, publicado na revista Nature Astronomy, apresentou evidências diretas da presença de ondas Alfvén torcionais em pequena escala espalhadas por toda a coroa.
O que são as ondas Alfvén torcionais?
Essas ondas são perturbações magnéticas que se propagam ao longo de linhas de campo magnético, torcendo-se à medida que se movem. Anteriormente, a ciência havia identificado apenas versões maiores dessas ondas, geralmente associadas a erupções solares intensas. A presença das variantes menores havia sido teorizada, mas nunca observada com clareza – até agora.
Com o auxílio do telescópio solar mais potente do mundo, o Daniel K. Inouye Solar Telescope, localizado no Havaí, os pesquisadores conseguiram capturar imagens de altíssima resolução que revelaram o movimento do plasma solar com precisão inédita, informa o ScienceAlert. O foco da análise foram as emissões de ferro superaquecido, que variam de cor conforme se aproximam ou se afastam da Terra.
Superando os desafios da observação
Segundo o físico Richard Morton, da Universidade de Northumbria, no Reino Unido, um dos obstáculos era o fato de que os movimentos oscilatórios do plasma mascaravam os sinais das ondas torcionais. Para contornar esse problema, a equipe desenvolveu uma técnica específica para filtrar os movimentos dominantes e destacar os padrões de torção.
“Essa descoberta encerra uma busca iniciada na década de 1940”, afirmou Morton. “Agora conseguimos observar diretamente esses movimentos torcionais que torcem as linhas do campo magnético na coroa solar.”
A observação direta dessas ondas representa um avanço importante para os modelos que tentam explicar o funcionamento da atmosfera solar. Além de ajudar a entender como o calor é transferido da superfície para a coroa, os dados contribuem para aprimorar as previsões sobre o chamado “clima espacial”.
Isso é relevante para a proteção de satélites, redes elétricas e sistemas de comunicação na Terra, que podem ser afetados por tempestades solares intensas. Segundo os pesquisadores, as ondas Alfvén torcionais podem desempenhar um papel importante tanto no aquecimento da coroa quanto na propulsão dos ventos solares para além da gravidade do Sol.
Morton destacou que, com essas observações, torna-se possível confrontar os modelos teóricos com dados reais, um passo fundamental para validar ou refinar as hipóteses existentes. “Essas descobertas nos oferecem uma visão muito mais clara de como o gigantesco forno solar realmente funciona”, completou o físico.






