Os efeitos das redes sociais e dos celulares sobre nosso cérebro apresentam um risco maior do que um chip inserido no corpo humano, diz o fundador e executivo-chefe (CEO) da empresa de biotecnologia Science Corporation, Max Hodak, que desenvolve um chip capaz de ajudar pacientes que sofrem de degeneração macular.
No meio do ano, a Science e a Universidade de Stanford finalizaram o primeiro grande teste clínico do Prima, um chip implantado atrás da retina ocular capaz de restaurar a visão em pacientes com estágio avançado de degeneração macular relacionada à idade (DMRI). A condição afeta mais de 5 milhões de pessoas no mundo, segundo artigo da faculdade de Medicina de Stanford.
O Prima, sigla em inglês para “Implante fotovoltaico de retina em microarranjo” consiste em um implante eletrônico de 2 milímetros, 400 eletrodos e metade da espessura de um fio de cabelo, combinado com um par de óculos especiais que capturam e convertem imagens em sinais elétricos pelo implante. O chip, por sua vez, estimula as células retinianas restantes, enviando sinais visuais para o cérebro.
A tecnologia foi testada por 38 pacientes com mais de 60 anos de idade em cinco países da Europa, incluindo França, Holanda e Reino Unido. No momento, segundo Hodak, o dispositivo está sob análise regulatória na Europa e também foi submetido à Food and Drug Administration (FDA) americana.
Hodak diz que a expectativa é lançar o Prima em 2026, começando pela Europa, antes dos Estados Unidos. “Esse é um verdadeiro marco e nos indica que estamos no caminho certo”, diz o engenheiro de biomedicina, que deixou a presidência da Neuralink para fundar a Science, em abril de 2021.
O próximo passo da empresa é ampliar o campo de visão dos pacientes com uma nova versão do Prima que leva implantes maiores, com eletrodos menores “para que possamos nos aproximar da acuidade visual nativa”, afirma Hodak. As versões maiores serão testadas com humanos no ano que vem, ele informa.
O CEO da Science busca novas rodadas de investimentos para financiar tanto as novas versões do Prima como pesquisas de interfaces neurais bio-híbridas para pacientes com limitações motoras provocadas pela Doença de Parkinson e casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Em abril, a Science recebeu US$ 104 milhões em uma rodada de investimentos liderada pelo fundo de capital de risco Khosla Ventures. Desde sua fundação, a empresa levantou US$ 250 milhões de investidores, disse Hodak.
O CEO da Science explica que as interfaces neurais bio-híbridas consistem no cultivo de neurônios biológicos que são incorporados a um dispositivo eletrônico inserido na superfície do cérebro. “Estas células [neurais] crescem e formam novas conexões biológicas. E isso é perfeitamente não destrutivo porque, se você adicionar mais neurônios, eles crescem e formam novas conexões com os neurônios existentes”, detalha Hodak.
Sobre as redes sociais, Hodak diz que “o Twitter [atual rede social X, de Elon Musk] já ‘hackeia’ o cérebro”. Em entrevista ao Valor, durante o evento de inovação Web Summit 2025, em Lisboa, nesta terça-feira (11), o engenheiro de biotecnologia, cofundador da empresa Neuralink, ao lado de Elon Musk, tirou o celular do bolso para reforçar sua afirmação.
“O iPhone é uma tecnologia maluca, se você parar para pensar. As pessoas são tão viciadas em seus telefones que, se você o deixar em outro cômodo por 10 minutos, elas ficam fisicamente ansiosas”, disse. “”É uma neurotecnologia incrivelmente poderosa. E acho que me preocupo muito mais com isso do que com os implantes cerebrais, que são dispositivos médicos que, acredito, farão coisas muito importantes para os pacientes e talvez nos levem, como eu disse, a uma abordagem alternativa da medicina.”
A repórter viajou a convite do Web Summit






