Hoje em dia, muito se fala sobre Inteligência Artificial (IA). No entanto, a discussão está evoluindo rapidamente para além dos modelos de linguagem tradicionais, avançando para os agentes de IA. Eles representam a vanguarda do uso da IA, capazes de transcender previsões e conversas para remodelar processos e executar tarefas complexas.
Vistos como poderosos instrumentos para auxiliar as empresas a alcançar seus objetivos mais importantes, os agentes de IA são constituídos por quatro pilares:
- Planejamento Estratégico e Raciocínio Lógico. Equipados com recursos avançados de raciocínio, os agentes conseguem decompor objetivos complexos em tarefas menores e mais gerenciáveis e desenvolver planos para executá-los.
- Autonomia Orientada à Ação. Projetados para operar com um grau de independência – estabelecido por supervisores humanos –, eles podem tomar decisões e ações com base em seus objetivos e no ambiente. O grau de controle pode ser ajustado ao longo do tempo, aumentando potencialmente a autonomia do agente à medida que a confiança em seu desempenho aumenta.
- Memória e Contexto. São capazes de acompanhar o contexto ao longo de interações prolongadas, usando ações e informações passadas para embasar decisões futuras, podendo lidar com fluxos de trabalho complexos e com várias etapas.
- Integração com Sistemas e Ferramentas. Os agentes podem se conectar e utilizar uma ampla gama de sistemas de software, ferramentas e fontes de dados. Isso lhes permite executar tarefas que envolvem interação com a infraestrutura tecnológica existente.
O uso desses agentes implica em uma organização cada vez mais híbrida, em que humanos e máquinas trabalham lado a lado, otimizando processos e liberando o potencial humano para tarefas mais estratégicas e criativas.
Um estudo recente do BCG, intitulado “AI Agents Can Be the New All-Stars on Your Team”, demonstra que a consultoria, utilizando um kit de ferramentas de código aberto para construção de agentes (AgentKit), observou nos seus clientes uma redução de 45% nos recursos e de 80% no prazo de entrega.
Em vendas, os ganhos de eficiência variaram de 30% a 50%. No marketing, por outro lado, os ativos sob gestão aumentaram de 5% a 10%, e as conversões de clientes cresceram de quatro a seis vezes.
Já na área de engajamento do cliente, as conversões se ampliaram de cinco a dez vezes em relação aos canais digitais tradicionais. Por fim, na gestão da cadeia de suprimentos, houve um crescimento das margens de EBIT de 3 a 10 pontos.
Contudo, desbloquear esse poder transformador exige uma abordagem estratégica e focada, alinhada aos objetivos gerais de negócios de uma empresa. É nesse ponto que a regra 10-20-70 se torna crucial: 10% do esforço deve ser dedicado a algoritmos, 20% a tecnologia e dados, e os 70% restantes a pessoas e processos.
Além disso, é fundamental reforçar a importância de aderir a práticas responsáveis de IA, dada a crescente complexidade e o impacto dos agentes nas operações.
Reformulação de processos
Para que a implantação dos agentes de IA seja bem-sucedida, as empresas devem focar na reformulação de processos. Isso implica em:
- Redesenhar processos. Repensar os fluxos de trabalho desde o início, removendo etapas desnecessárias, redefinindo funções, consolidando tarefas e garantindo que a lógica subjacente do processo seja sólida antes de ser automatizado.
- Codificar conhecimento. Os agentes de IA operam com base no conhecimento, o que significa que as companhias devem definir explicitamente sua versão das melhores práticas para um processo.
- Qualidade de sistemas e dados. Além de bancos de dados limpos e bem estruturados, os agentes precisam ter acesso aos modelos preditivos para basear a tomada de decisões.
- Gestão de riscos e testes. Garantir que a organização tenha recursos robustos para tratamento de erros e interpretabilidade, bem como gatilhos à prova de falhas e a capacidade de orquestrar e monitorar os agentes, torna-se essencial.
- Integração. Personalizar os agentes para processos, objetivos, dados proprietários e modelos preditivos específicos. As empresas podem concentrar seus esforços de desenvolvimento interno em áreas que diferenciem seus negócios e ofereçam valor único aos clientes.
Incorporar agentes de IA não significa apenas adotar uma nova tecnologia, mas sim redesenhar os negócios para um futuro impulsionado pela IA. As empresas precisam adotar os agentes não como ferramentas isoladas, mas como facilitadores fundamentais de eficiência, inovação e crescimento.
O diferencial competitivo virá da capacidade de codificar processos essenciais, garantir a qualidade dos dados e integrar agentes de forma fluida aos processos e à cultura de trabalho.
*Alexandre Montoro é diretor executivo e sócio do Boston Consulting Group (BCG)





