A vida é uma sucessão de transições.
Algumas acontecem devagar, outras de forma abrupta. Umas nos convidam, outras nos arrastam. Mas todas, sem exceção, nos obrigam a nos mover, e é justamente nesse movimento que voltamos a viver de verdade.
Nos últimos anos, vivi várias delas. Saí de uma posição global para uma local. Do fim de um casamento para um novo amor. De uma carreira de 23 anos em uma das maiores empresas de saúde do país, minha última como CMO, para uma nova fase como investidor, mentor e palestrante.
Essas mudanças me devolveram algo que a rotina e o excesso de previsibilidade haviam roubado: a sensação de estar vivo.
As transições fazem isso. Elas nos desinstalam.
Nos tiram do lugar onde nada dói, mas também nada acontece. Um amigo me disse uma vez: “É como se você tivesse ficado tempo demais em uma gaiola, e agora, solto, quisesse voar em todas as direções.”
E é exatamente isso. A liberdade das transições é excitante, mas perigosa.
Porque mudar não é o mesmo que evoluir.
Transitar exige direção, consciência e tempo.
Vivemos um tempo em que a transição é inevitável.
A tecnologia, a cultura e as gerações estão mudando o mundo a uma velocidade que nenhum plano estratégico consegue acompanhar.
O que era linear virou caótico; o que era certo, hoje é transitório.
Por isso, mais do que estabilidade, o que precisamos é fluidez, a capacidade de aprender, desaprender e reaprender continuamente.
E isso vale para pessoas e empresas.
Algumas conseguem transformar a transição em força. Outras, em ruína.
A 3M é um exemplo clássico de quem entendeu o poder do movimento.
Desde o início do século passado, ela fez da experimentação uma filosofia. Os funcionários têm liberdade para dedicar parte do tempo a projetos pessoais, e uma regra cultural diz que 30% da receita anual deve vir de produtos lançados nos últimos quatro anos.
Essa mentalidade transforma a transição em rotina. A inovação não depende de uma crise, ela é parte do DNA.
Ao dar autonomia para que as pessoas criem o novo, sem medo de errar, a 3M criou um ecossistema de reinvenção permanente. Foi assim que nasceram produtos icônicos como o Post-it, fruto de um erro químico, e centenas de outros que mantêm a empresa relevante há mais de um século.
A 3M entendeu algo simples e profundo: quem não transita, desaparece.
Outro exemplo é a Amazon.
Ela começou vendendo livros, mas nunca se enxergou como uma livraria.
Seu verdadeiro negócio sempre foi entender o que as pessoas precisam, e antecipar o próximo passo.
A cada transição, ela rompeu com seu próprio modelo: de e-commerce para marketplace, de marketplace para plataforma tecnológica, e de plataforma para ecossistema.
Hoje, sua maior fonte de lucro não vem das vendas, mas da nuvem: a AWS.
A Amazon fez da transição sua vantagem competitiva.
Enquanto outros defendem o passado, ela o substitui antes que o mercado a obrigue.
Essas empresas mostram que a transição não é ruptura, é ponte.
Uma ponte entre o que fomos e o que podemos ser.
Mas toda ponte precisa ser atravessada com cuidado: com consciência, escuta e ritmo.
Transições mal conduzidas de líderes, de culturas, de estratégias, são as que mais destroem valor no mundo corporativo.
Não é o novo que assusta; é a forma como se chega até ele.
No triatlo, a parte mais decisiva não é nadar, pedalar ou correr.
É o intervalo entre uma modalidade e outra, o momento em que o corpo precisa se reorganizar, mudar o foco, ajustar o ritmo.
Na vida e nos negócios, é igual.
A forma como você faz a transição define a qualidade da jornada.
Por isso, não tenha medo das transições.
Elas são inevitáveis, mas também generosas.
Elas nos obrigam a sair da anestesia, a reaprender, a evoluir.
São o lembrete de que o conforto é temporário e que o movimento é o que nos mantém vivos.
Transitar é o verbo do nosso tempo.
E, talvez, o segredo da longevidade também.




