O agronegócio brasileiro vive uma nova revolução tecnológica. Com o uso de inteligência artificial, robótica e automação, a produção no campo tem alcançado ganhos de produtividade que chegam a 25% e melhor aproveitamento de mão de obra e recursos naturais. Diante dos desafios da atualidade, a inovação está se consolidando como o principal vetor de competitividade e sustentabilidade do setor.
De acordo com Oscar Burd, CEO da Success e professor da FGV Agro, a inteligência artificial deve provocar no agronegócio um impacto comparável ao do fogo, da roda e da eletricidade na história da humanidade. Convidado do Agro Horizonte, evento realizado por Globo Rural e Valor Econômico em parceria com a Corteva Agriscience e com o apoio do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), ele defendeu que a adoção das novas tecnologias deixou de ser uma escolha para as empresas do setor.
“A rota para sobreviver e prosperar é a adoção da inteligência artificial e das novas tecnologias. Essa é uma obrigação para a sustentabilidade e a longevidade do agronegócio”, afirmou.
Na visão do executivo, o impacto da IA no campo já é mensurável. Estudos indicam ganhos médios de produtividade de até 25% em lavouras que utilizam agricultura de precisão baseada em inteligência artificial, além de reduções de custo e de melhoria na qualidade dos produtos. Além disso, o manejo de pragas e doenças com análise de imagens por IA também já mostra resultados expressivos.
Precisão no campo
Bruno Pavão, CRO da Solinftec, concorda com a visão de que as novas tecnologias permitem aplicações mais precisas, diminuindo os custos e o impacto ambiental. “A inteligência artificial e a robótica são aperfeiçoamentos das técnicas agrícolas tradicionais. Elas nos permitem aplicar defensivos apenas onde há necessidade, com base em leitura de imagens e reconhecimento de padrões”, argumentou.
Segundo o executivo, o uso de IA nas lavouras promove ganhos médios de 5% a 8% na produtividade em duas culturas de grande importância para o país. “No milho, tivemos aumento de 8,5% no peso dos grãos por espiga e de quase 7% no peso total das sementes. No algodão, as áreas tratadas com IA registraram 5% mais produtividade e fibras de qualidade premium, aptas a atender padrões de exportação para mercados exigentes como o sul-coreano”, afirma.
Os resultados, de acordo com Pavão, foram obtidos em três safras consecutivas no Mato Grosso e na Bahia, e reforçam o potencial da tecnologia para cumprir exigências internacionais de resíduos químicos (LMR) em alimentos. “O Brasil é hoje o único país com produção comercial de robôs autônomos agrícolas em larga escala, com mais de 150 unidades em operação. Isso nos permite entregar grãos e fibras dentro dos limites residuais aceitos pelos principais mercados importadores.”
A inteligência artificial também tem impulsionado os ganhos em sistemas de integração lavoura-pecuária. Pavão relata que o uso dos robôs no manejo de plantas remanescentes após a colheita de soja resultou em incremento de 46% na altura da pastagem e 16% no teor de matéria seca, ampliando a oferta de alimento para o gado.
Mão de obra
A modernização tecnológica, de acordo com os especialistas reunidos na Agro Horizonte, também tem potencial para mitigar um dos maiores desafios atuais do campo: a escassez de mão de obra. Na avaliação de Antonio Chaker, fundador do Instituto Inttegra, a adoção de soluções digitais, automação e inteligência artificial é o caminho para aumentar a eficiência produtiva e incluir novas gerações no setor.
“Quando perguntamos a mil pecuaristas qual é o principal desafio dentro da fazenda, a resposta mais comum foi mão de obra. O problema não é apenas quantitativo, mas resultado de uma mudança profunda, consequência da transição entre gerações com visões e expectativas muito diferentes sobre o trabalho no campo”, observou Chaker.
O especialista destacou ainda que as novas gerações têm menor disposição para as atividades braçais, mas alto interesse por tecnologia, o que exige uma reinvenção do ambiente de trabalho rural. “A melhor forma de atrair jovens para a agropecuária é modernizar a fazenda. O uso de drones, sensores, robôs e inteligência artificial torna o trabalho mais técnico, mais seguro e mais interessante para quem cresceu em um mundo digital”, concluiu.





