Poluição sonora e do ar, clima extremo, estresse crônico e contaminantes. Cinco fatores ambientais presentes no dia a dia da população dos grandes centros e que aumentam os riscos à saúde cardiovascular. Do ponto de vista biológico, eles criam um ambiente hostil para o sistema cardíaco e, em longo prazo, podem ampliar as chances de infarto e acidente vascular cerebral.
De acordo com o Dr. Nilton Carneiro, cardiologista e arritmologista do Centro de Cardiologia do Hospital Santa Catarina – Paulista, a exposição contínua a esse conjunto de agentes externos gera um impacto considerável e deve ser avaliada e tratada por especialistas inclusive de forma preventiva, ou seja, antes de surgirem sinais e sintomas de doenças associadas.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) corroboram que ambiente e estilo de vida tem impacto superior à predisposição genética. Quando se trata de doenças cardiovasculares, apenas 20–30% são provenientes de riscos não modificáveis, ou seja, 70% tem como causa aspetos externos. “Isso reforça que fatores ambientais e comportamentais são ponto crucial para a prevenção”, explica o especialista.
Poluição do ar
Classificado como nível moderado pelos órgãos de monitoramento, o índice de poluição do ar em São Paulo, por exemplo, já é suficiente para elevar os riscos de problemas cardiológicos. Uma das causas é a concentração de um tipo de poeira extremamente fina, presente no ar: o chamado material particulado fino (PM2.5) que, em medições recentes, aparece em valor superior ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O Dr. Nilton Carneiro explica que o PM2.5 consegue penetrar nos pulmões e chegar à corrente sanguínea, gerando resposta inflamatória e estresse oxidativo, o que acelera o envelhecimento e aumenta a possibilidade de doenças. As alterações afetam os vasos sanguíneos e deixam o sangue mais propenso a formar coágulos. Consequência: risco de infarto agudo do miocárdio, AVC e arritmias, mesmo em pessoas sem histórico de doenças cardiovasculares.
Poluição sonora e estresse
Uma reação em cadeia é gerada por elementos comuns à rotina dos brasileiros: poluição sonora eleva os hormônios do estresse que, quando crônico, produz aumento dos níveis de cortisol e pressão arterial; falta de exercício físico e menor contato com espaços verdes dificultam o relaxamento, que por sua vez ajudaria a evitar o estresse e a preservar o coração.
“A exposição crônica ao ruído faz o corpo ativar seu sistema de alerta e ser mantido em estado de tensão por conta da desregulação da produção de cortisol e adrenalina. Isso pode resultar em aumento da pressão arterial, alteração do fluxo sanguíneo, estresse oxidativo e inflamação, ampliando o risco de infarto e AVC. Nesse ponto, políticas públicas que reduzam ruído urbano e de tráfego são essenciais”, avalia o especialista.
Clima extremo
Mudanças extremas do clima também afetam o coração. As ondas de calor, por exemplo, impõem estresse térmico ao corpo e podem causar desidratação, aumento da viscosidade do sangue e sobrecarga cardíaca, elevando as possibilidades de infarto, arritmias e AVC. Idosos, pessoas com insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana, hipertensos e usuários de certos medicamentos (como diuréticos) são mais vulneráveis.
Contaminantes
Metais pesados, como chumbo e arsênio, além de compostos industriais, acarretam danos ao sistema cardiovascular, entre eles a aterosclerose acelerada – entupimento das artérias. Mesmo em baixas doses, a exposição contínua e o acúmulo no organismo são preocupantes. “Algumas das consequências são hipertensão e maior risco para arritmias e insuficiência cardíaca”, afirma o especialista do Hospital Santa Catarina – Paulista. Abaixo, o médico dá orientações para preservar a saúde.
Dicas para reduzir efeitos:
- Diminua a exposição à poluição: evite atividades físicas próximas a vias movimentadas, use purificadores de ar em ambientes fechados e tenha atenção aos índices de qualidade do ar.
- Gerencie o estresse: pratique técnicas de atenção plena, respiração e meditação e busque parques e áreas verdes com frequência para reduzir o cortisol.
- Hidrate-se e fique atento no calor extremo: reforce a ingestão de líquidos durante ondas de calor e evite exercícios exaustivos nos horários mais quentes.
- Cuidado com a água: considere o uso de filtros de qualidade para reduzir a exposição a contaminantes como chumbo e arsênio.
- Proteja sua audição: use protetores auriculares quando necessário, insonorize ambientes, priorize áreas silenciosas e incorpore “pausas acústicas” na rotina.





