(FOLHAPRESS) – Em meio ao racha que ocorre no PT para definir quem será o próximo presidente do partido, o deputado federal Rui Falcão (SP) lançou, nesta segunda-feira (14), sua candidatura à presidência da sigla.
O parlamentar disse que sua candidatura é mais sobre os rumos do partido e menos sobre “quem fica a cargo do caixa”. A frase foi uma referência às disputas internas sobre o comando da tesouraria do PT, um dos motivos da ruptura de Edinho Silva com outros petistas.
Edinho, ex-prefeito de Araraquara, é o candidato apoiado pelo presidente Lula. Apesar de pertencer à tendência majoritária do PT, a CNB (Construindo um Novo Brasil), Edinho tem a candidatura contestada por muitos de seus pares.
Além dos dois, Romênio Pereira, do Movimento PT, e Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, também são candidatos. O prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá, também diz que vai concorrer.
“Estou convencido de que nossa candidatura é essencial para os desafios que temos de enfrentar e para que o presidente Lula possa conquistar seu quarto mandato em 2026. O PT precisa estar à altura da grave crise da democracia mundial”, disse Falcão no evento.
O deputado disse que, caso seja eleito presidente, abrirá mão de seu mandato como deputado federal.
“Não podemos sacrificar nossa identidade e nossos projetos sob risco de perder apoio da nossa base social”, disse. “O PT não pode se transformar numa caixa de repetição da administração federal”, acrescentou.
O evento ocorreu no Sindicato dos Engenheiros, no centro de São Paulo e reuniu representantes de diferentes correntes do PT, chamadas internamente de “tendências”, que enxergam nele a maior oposição a Edinho.
Falcão pertence à Novo Rumo, uma ala minoritária dentro da sigla. Ele presidiu o PT em dois períodos (1993-1994 e 2011-2017) e tem, entre suas prioridades, o fim da escala 6×1 de trabalho e a reeleição de Lula em 2026. Ele é apoiado por outros dois ex-presidentes do partido (José Genoino e Olívio Dutra) e por mais de 70 deputados federais e estaduais.
A eleição será em julho deste ano e funciona de forma direta, pelo voto dos filiados. Atualmente, o senador Humberto Costa (PE) comanda o partido de forma interina após Gleisi Hoffmann renunciar para assumir como ministra de Relações Institucionais do governo Lula. A expectativa dos petistas é de que Falcão e Edinho disputem o segundo turno.
Em 2022, os dois foram coordenadores da campanha de Lula à Presidência da República junto de Sidônio Palmeira, atualmente ministro da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência).
Nesta segunda-feira, José Genoino, ao dar início aos discursos, afirmou que um dos propósitos da candidatura de Falcão deve ser o de “pressionar e flexionar o nosso governo à esquerda”.
“A esquerda tem que conquistar a sua relevância e o seu protagonismo. Tem que fazer uma disputa sem medo de ser esquerda, sem medo de ser socialista”, disse ele.
Os militantes presentes usavam adesivos com os dizeres “virar à esquerda”. Os organizadores leram, no início do evento, cartas de Valter Pomar e Romênio Pereira, adversários de Falcão, com elogios ao deputado e críticas à candidatura de Edinho. Deputados federais gravaram vídeos de apoio -entre eles Rogério Correia (MG), vice-líder do governo Lula na Câmara- que foram exibidos no telão.
Estiveram no evento nomes o deputado federal Kiko Celeguim, presidente do PT em São Paulo, o deputado estadual Maurici (SP), o advogado Marco Aurélio Carvalho, do grupo Prerrogativas, e Claudinho Silva, ex-ouvidor das polícias de São Paulo.
Representantes de quatro tendências do PT -Militância Socialista, Diálogo e Ação Petista, Avante e Novo Rumo- integraram a mesa ao lado de Falcão e defenderam que o partido retome a militância de base. Eles também fizeram críticas ao centrão, com o qual o governo Lula tem buscado acordos, no Congresso Nacional, para aprovar suas pautas.
“A gente acaba servindo de cangote e escada para grupos políticos que não tem nada a ver conosco”, disse o ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh.
Ex-vereador e ex-deputado estadual por São Paulo, José Américo disse que o PT sempre foi eleito quando apresentou propostas à esquerda e que não é papel do partido se adaptar ao Congresso.
“Se adaptar e fugir do conflito muitos partidos podem fazer. O que só nós podemos fazer é disputa social e política no nosso país. Os ricos precisam pagar mais impostos. Precisamos transformar o nosso partido, ser de lutas e campanhas”, afirmou ele.
A partir do registro formal, Rui Falcão terá direito a dez viagens de avião e uma hospedagem para sair em campanha pelo país. Ele lançou uma vaquinha virtual para ajudar a custear a candidatura.
Em maio, quando se encerra o prazo de registro das candidaturas, terão início os debates entre os candidatos.
O deputado disse à reportagem que há grande expectativa em torno desta eleição pois a última votação direta no PT ocorreu em 2013.
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