Durante muito tempo, falar sobre inovação no marketing era sinônimo de ruptura. Ou seja, a lógica predominante era a da disrupção: romper padrões, quebrar moldes, reinventar tudo. Mas a chegada da inteligência artificial nos convida a uma nova perspectiva – não a de apagar o que já existe, mas a de expandir o que já fazemos bem. É um deslocamento sutil, mas transformador. Saímos do território da reinvenção total para entrar em uma era de ampliação.
Estamos diante de uma mudança de paradigma, em que a colaboração entre humanos e algoritmos se torna parte natural do processo criativo. A IA não veio para substituir a intuição, o repertório ou a sensibilidade que diferenciam o marketing bem-feito. Pelo contrário, quando integrada com propósito, ela potencializa essas competências, liberando tempo para o que mais importa: pensar estrategicamente, observar o comportamento das pessoas com mais profundidade e construir conexões de verdade entre marcas e audiências.
Nesse contexto, o Brasil se destaca como um dos mercados mais abertos à experimentação com IA no ambiente de trabalho. Segundo uma nova pesquisa do LinkedIn, os profissionais brasileiros estão entre os mais confiantes e entusiasmados do mundo quanto ao uso da tecnologia em suas rotinas. Essa disposição não se limita à curiosidade, ela reflete uma cultura de adaptação, criatividade prática e vontade genuína de explorar caminhos novos. Em um cenário global ainda permeado por dúvidas, o otimismo brasileiro surge como uma vantagem competitiva para transformar possibilidades tecnológicas em valor criativo real. O que não me surpreende já que somos consideradas uma das nações mais criativas do mundo e tidos por muitos como um povo extremamente otimista.
Dados da mesma pesquisa mostram que 84% dos profissionais no país afirmam se divertir ao experimentar a IA no trabalho. Isso revela mais do que entusiasmo tecnológico: evidencia uma mentalidade construtiva, pronta para aprender e, principalmente, para usar a tecnologia como aliada em processos de criação mais ágeis e inspiradores.
É nesse ponto que o papel do marketing se fortalece. A IA pode gerar textos, imagens, recomendações de público e até antecipar comportamentos com base em padrões de dados. Mas, mesmo com toda essa capacidade, ela ainda depende de boas perguntas, de direção criativa, de uma visão estratégica clara e, o mais importante, de emoção. É o olhar humano que vai definir o que vale ser amplificado, como uma campanha deve ser posicionada e, principalmente, por qual razão aquela mensagem precisa existir. A tecnologia pode apontar caminhos, mas cabe a nós decidir qual deles representa melhor a essência da marca.
Afinal, essa nova era criativa não se trata de delegar à tecnologia o papel da criação, mas de enriquecer o processo com novas possibilidades. É sobre ampliar repertórios, testar ideias com mais agilidade e tomar decisões com base em mais inteligência. Tudo isso sem abrir mão da intuição, da sensibilidade e da intenção que só os humanos trazem à mesa.
À medida que essa nova realidade se estabelece, fica claro que o futuro do marketing não será liderado por quem automatizar mais, mas por quem for capaz de combinar técnica com sensibilidade, dados com cultura e inovação com propósito.
E a pergunta que sempre fica pra mim é: a IA seria capaz de idealizar a icônica campanha “Meu Primeiro Sutiã”, da Valisere? Ou de dar vida à intensidade de “Tormenta”, de O Boticário, no Dia das Mães? Só nos resta esperar, mas eu apostaria que não.
A tecnologia pode, sim, ajudar a criar efeitos visuais complexos ou acelerar testes de personagens sem os desafios dos castings, mas a ideia original, a emoção que conecta e o propósito que dá sentido a uma campanha continuam sendo, e sempre serão, essencialmente humanos.
*Ana Moises é diretora de Soluções de Marketing do LinkedIn






