Empresas visionárias olham para a IA como oportunidade de alinhar cultura, processos e ambições estratégicas com as novas possibilidades tecnológicas. A inteligência artificial generativa deixou de ser promessa, para se tornar parte do cotidiano das empresas e o uso de ferramentas como ChatGPT, Claude e Gemini já integram a rotina de milhões de profissionais, de analistas a executivos, automatizando tarefas e acelerando decisões.
Porém, a verdadeira inovação não acontece pela simples introdução de tecnologia no negócio, mas pela forma como as empresas decidem, face ao potencial que se abre, transformar sua maneira de trabalhar, liderar e se relacionar, usando a tecnologia como desbloqueador de transformação organizacional. Esse é o cerne da gestão da mudança transformacional: não reagir à tecnologia, mas aproveitá-la para chegar ao que antes, embora desejado, parecia distante.
Segundo levantamento da McKinsey, 70% das empresas já testam algum tipo de ferramenta generativa, mas apenas 7% conseguiram integrá-la de forma estratégica. A diferença não está na tecnologia, mas na capacidade de mudar cultura, mentalidade e modelos de liderança. As companhias que enxergam a IA como mais um software perdem a chance de fazer dela um catalisador de mudança organizacional. Já as que a entendem como parceira estratégica estão redesenhando processos, fluxos e papéis e, ao mesmo tempo, resgatando propósito. Porque, se a máquina assume parte do trabalho operacional, o que resta de essencialmente humano?
A maneira como as pessoas trabalham, colaboram e tomam decisões já está sendo profundamente impactada. A tecnologia já mudou, é inevitável, por isso quem precisa também mudar são as pessoas, as lideranças e a cultura organizacional. É por isso que a gestão da inovação é mais sobre confiança, propósito e a forma como integramos a inteligência humana com inteligência artificial.
Toda revolução tecnológica nos ensina a mesma lição: o impacto humano é sempre maior do que o avanço técnico. A eletricidade, o computador pessoal e a internet não transformaram o mundo apenas porque existiram, mas porque mudaram a forma como as pessoas pensavam, colaboravam e criavam valor. Com a IA generativa, a história se repete. As tarefas estão sendo automatizadas, mas a confiança, a criatividade e a capacidade crítica continuam insubstituíveis. A gestão da mudança, nesse contexto, deixa de ser uma área de apoio e se torna competência central da estratégia. Sem um processo estruturado de adaptação com comunicação clara, capacitação e redesenho de papéis, muitas organizações correm o risco de ter tecnologias de ponta operando sobre culturas analógicas, que não sabem o que fazer com elas.
A adoção dessa tecnologia exige redefinir funções, desenvolver novas competências e repensar estilos de liderança. Líderes que tomavam decisões com base em intuição agora precisam aprender a dialogar com dados. Profissionais que temiam perder espaço para algoritmos descobrem que podem se tornar muito mais estratégicos se aprenderem a usar a tecnologia como extensão de suas capacidades cognitivas.
A IA generativa é, em última instância, um espelho que amplifica o que já existe. Organizações com cultura de aprendizado, confiança e propósito verão seus times florescerem com o uso dessas ferramentas. As que operam por comando e controle, medo e silos hierárquicos, verão o contrário: desorientação, resistência e desperdício de potencial. Já as empresas visionárias usarão a tecnologia para acelerar mudanças transformacionais desejadas; as demais, inevitavelmente, correrão para se adaptar ao inevitável. Este talvez seja o verdadeiro teste da era da inteligência artificial: não o quanto a máquina é capaz de aprender, mas o quanto nós estamos dispostos a evoluir junto com ela.
André Nunes é Managing Partner da Beta-i Brasil






