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'Não me entrego para essa história de idade': as lições de dona Onete, 86, rainha do carimbó

Redação by Redação
novembro 14, 2025
in Negócios, News
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Escalada para representar a música paraense na COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudança do Clima), em Belém, a cantora Dona Onete, de 86 anos, só ganhou fama como artista depois de idosa.

Onete tinha mais de 60 anos de idade quando criou um grupo de danças folclóricas e começou a fazer shows. Era o início de uma carreira que lhe renderia o título de “rainha do carimbó”, um dos principais ritmos amazônicos.

“[Me diziam:] ‘Larga de ser professora, você canta muito bem’. E eu dizia: ‘Não, primeiro eu vou me aposentar, porque e se não der?’ Eu não tinha dinheiro e tinha dois filhos para criar'”, ela lembra em entrevista à BBC News Brasil.

Antes de se tornar cantora e adotar o nome artístico Dona Onete, Ionete da Silveira Gama passou décadas lecionando para crianças disciplinas como Geografia, História, Português e Matemática.

Uma carreira que, mesmo sem alçá-la à fama, a levou para o movimento sindical — onde testemunhou o nascimento da CUT (Central Única dos Trabalhadores) — e permitiu que rompesse um relacionamento abusivo de 25 anos.

“Eu tive aonde me amparar: eu saí do meu casamento e entrei no movimento”, diz Onete, que em 17 de setembro cantou em um palco no rio Guamá, em Belém, em um show preparatório para a COP30.

Também se apresentaram no evento a cantora americana Mariah Carey e as brasileiras Joelma, Gaby Amarantos e Zaynara.

A BBC News Brasil entrevistou Onete no Espaço Cultura Casa das Onze Janelas, em Belém. A cantora chegou pontualmente, mas a entrevista atrasou porque havia uma escada no caminho e Onete estava em cadeira de rodas — equipamento que usa por conta de problemas na coluna.

Seguranças se ofereceram para conduzi-la escada acima, mas ela preferiu se levantar e vencer os degraus sozinha, caminhando. “Não me entrego para essa história de idade”, disse, bem-humorada.

Criada pela avó

Nascida em 1939 em Cachoeira do Arari (PA), no arquipélago do Marajó, Onete tinha 4 anos quando perdeu o pai e 9 anos quando perdeu a mãe.

Ela foi criada pela avó paterna, Quitéria, uma parteira que morava em Belém e sempre viajava pelos interiores com a neta.

Foi com Quitéria e outras parentes que Onete aprendeu sobre “os chás de cura, unguentos, remédios naturais e saberes da cultura amazônica” — conhecimentos que mais tarde compartilharia com seus alunos da escola.

“As crianças precisam olhar mais para as estrelas, conversar com os animais, entender a floresta; precisam deixar a lua iluminar mais a sua imaginação”, diz Onete em Entre banzeiros e remansos: memórias da professora Ionete da Silveira Gama.

O depoimento faz parte da dissertação com que Josivana Castro Rodrigues, neta da cantora, obteve o título de mestre em Educação em Ciências e Matemáticas pela Universidade Federal do Pará, em 2023.

A obra descreve o período que Onete viveu entre ribeirinhos em Igarapé-Miri (PA) “rodeada pelo imaginário mítico amazônico, cheio de novidades e de contato com a fauna e a flora”.

“O rio sempre foi minha escola. Muitas coisas que eu sei hoje foram graças a essas minhas travessias pelas águas do Marajó, Belém e Igarapé-Miri”, ela disse à neta na dissertação.

Onete se mudou para Igarapé-Miri com os tios aos 19 anos. Lá, casou-se, teve dois filhos e passou a auxiliar a sogra, Merandolina, que era parteira e curandeira.

“Ionete era quem escrevia as receitas dos remédios que as entidades prescreviam em sua cabeça. As pessoas vinham de longe, muitas desenganadas dos médicos e, na maioria das vezes, passavam a estadia na sua casa, para alcançar a cura”, conta a neta na dissertação.

Retorno às aulas

Enquanto acumulava saberes convivendo com os ribeirinhos, Onete também frequentava a escola para completar os estudos. Na infância, ela cursara só até a quinta série. “Minha avó dizia que já chegava, porque eu não ia ser doutora”, diz.

Ela afirma, no entanto, que a decisão de voltar às aulas depois de adulta lhe “custou muito caro” por conta da reação do marido.

“Cada diplomazinho que eu pendurava na parede, ele dizia: ‘Mais um diploma de burridade'”, diz a cantora. “Ele estudou só até a quarta série primária, então, para ele, não era nada.”

“É preciso ter muita coragem de você se acalmar na casa, suportar, sabendo que mais adiante você vai sobreviver”, ela lembra.

Após concluir os estudos e se formar como professora, Onete passou a lecionar em escolas.

“Quando eu tinha 240 horas de aula de história, eu tinha o dinheiro para fazer as minhas coisas e mandei ele embora”, ela conta. “Eu saí da vida dele.”

Carimbó chamegado

O trecho em que fala do casamento é um dos raros momentos da entrevista em que Onete fica séria. Quando o assunto muda, porém, logo o bom humor e a postura afetuosa voltam.

Onete costuma interromper raciocínios com gargalhadas e chamar o interlocutor de “meu amor”. Já outra expressão que faz parte de seu repertório, “meus pretos”, ela diz que está tentando evitar para evitar mal-entendidos.

“‘Meu preto’ é uma coisa gostosa para mim”, diz.

“Muita gente me chamava assim quando eu era criança: ‘minha pretinha, faça isso'”.

Onete diz que suas atitudes e música refletem o “chamego” presente na cultura paraense. “É um carinho que nós temos”, explica.

A própria Onete cunhou a expressão “carimbó chamegado” para definir seu estilo musical — uma versão mais sensual e romântica do carimbó, gênero dançante e regido por tambores com influências indígenas, africanas e ibéricas.

“Chamego é aquele jeito gostoso de chegar, passar a mão na tua cabeça, te dar um cheirinho e ir embora. Não é namoro, não é nada”, diz.

Foi este o tratamento dispensado à equipe da BBC News Brasil, que naquela tarde encontrava Onete pela primeira vez.

Onete sindicalista

Assim que se divorciou, Onete entrou no movimento sindical em busca de melhores condições para os professores paraenses.

Ela conta que, certa vez, acompanhou uma colega que foi cobrar salários atrasados ao prefeito de Igarapé-Miri.

Segundo Onete, a colega tinha seis filhos e estava com dificuldades para pagar as contas. Ao confrontar o prefeito sobre os atrasos, no entanto, a mulher foi questionada sobre por que não buscava um trabalho que pagasse mais, já que tinha tantos filhos para sustentar.

“A gente sabia que ele não estava errado, mas a gente não gostou do jeito que ele disse”, conta Onete.

“Então nós prendemos o prefeito lá, batemos prego na porta”, conta.

O prefeito escapou pela janela, mas acabou aceitando pagar os salários atrasados. “Não era fácil a briga”, diz Onete.

Criação da CUT

No início dos anos 1980, ela teve um novo desentendimento — este, com a diretora da escola, que não queria liberá-la para participar de uma das primeiras reuniões da CUT (Central Única dos Trabalhadores), em Brasília.

Fundada em 1983, a entidade agregou diferentes categorias de trabalhadores e se tornou a maior central sindical da América Latina.

Onete venceu o embate com a diretora e foi para o encontro, interessada em filiar sua associação de professores à CUT e defender a construção de universidades no interior do Pará.

“Mas eles não queriam a gente, queriam só os trabalhadores rurais e metalúrgicos”, ela lembra na entrevista à neta.

Onete diz que, na época, os dirigentes sindicais também resistiam em aceitar mulheres no movimento, pois o Brasil ainda estava sob a ditadura militar (1964-1985) e havia risco de confrontos.

“A gente só sabia correr, mas não sabia atirar. Ninguém sabia o que podia acontecer”, diz.

Mesmo assim, ela continuou frequentando os encontros e fez vários cursos oferecidos aos sindicalistas — experiência que depois aproveitou como professora.

Da escola ao palco

Onete sempre gostou de cantar, mas só depois da aposentadoria começou a se apresentar profissionalmente.

Em entrevista ao blog El Cabritón, em 2021, ela narrou um dos eventos que precipitaram o início da carreira musical. Onete diz que estava cantando sozinha em casa enquanto um grupo de carimbó ensaiava na rua. Quando a ouviram, os músicos a convidaram a cantar com eles.

“Não queria aceitar, mas meu segundo marido disse: ‘Vai, pra você não ficar aí, idosa, deitada em uma rede, doente’. Ele sabia o que estava falando”, disse a cantora ao blog.

Pouco depois, ela mudou de banda e virou a protagonista do novo grupo num momento em que a música paraense vivia uma espécie de boom, capitaneado por nomes como a banda Calypso e Gaby Amarantos.

Onete, porém, logo se destacou também no exterior. Seu primeiro disco, Feitiço Caboclo (2012), foi lançado quando Onete tinha 73 anos e chamou a atenção de críticos e produtores estrangeiros.

Em 2015, o jornal britânico London Evening Standard classificou a música de Dona Onete como “animada e dançante, conduzida por um saxofone marcante e acompanhada por uma percussão ágil.”

Ela se apresentou em países como Estados Unidos, Portugal, França e Reino Unido — incluindo uma participação no programa LatAm Beats, na BBC em Londres, em 2014.

No Brasil, a carreira ganhou impulso com o sucesso de canções que celebram símbolos paraenses.

Entre elas estão Jamburana (2013), que enaltece as propriedades do jambu — erva típica da culinária local —, e No meio do pitiú (2016), que narra um namoro entre um urubu e uma garça no Mercado Ver-o-Peso, em Belém.

Com a fama, músicas de Onete também passaram a ser gravadas por artistas famosas — caso de Banzeiro, gravada por Daniela Mercury em 2023, Mestiça, gravada por Gaby Amarantos, em 2012, e Pedra sem valor, por Fafá de Belém, 2015.

Em entrevista à revista Trip, Amarantos disse que Onete “oxigena a cena da música paraense, mantendo a chama viva”.

Para Fafá de Belém, Onete “é o símbolo de todas as mulheres do Pará”. “Ela carrega nela impressa toda a nossa natureza”, afirmou a cantora à revista.

Aos 86 anos, Onete segue fazendo shows, mas com menos frequência. E deixou de atender os convites para se apresentar no exterior.

“Foi difícil ter de andar de cadeira de rodas, mas não me entrego. Ainda me sinto como se tivesse uns 70 anos”, afirma.

Um conselho

Depois de viver tantos acontecimentos ao longo de quase nove décadas, qual conselho Onete daria a si mesma jovem?

“Não teria ido me casar para o interior para passar o que eu já passei, mas também foi este interior que me deu o que eu sou agora”, afirma.

“Conhecimento, ser professora, ter toda essa música que eu canto…”

“Eu sou dona da minha história. Eu caminhei pelo caminho errado, mas depois eu me achei no caminho certo.”

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