A inteligência artificial chegou para ficar na indústria fonográfica – e as pessoas aparentemente estão gostando. Esta semana, três músicas criadas com a tecnologia chegaram aos primeiros lugares das paradas do Spotify e da Billboard.
Reportagem do The Guardian destaca que as canções “Walk My Walk” e “Livin’ on Borrowed Time”, de Breaking Rust, lideraram a lista “Viral 50” do Spotify nos Estados Unidos. Essa lista, segundo o serviço de streaming, documenta diariamente as “faixas mais virais do momento”.
Na versão global do ranking, o topo foi ocupado por “We Say No, No, No to an Asylum Center”, um hino anti-imigração de JW “Broken Veteran”. O Breaking Rust também apareceu entre os cinco primeiros colocados.
Poucos dias depois de viralizar, porém, a faixa de Broken Veteran desapareceu do Spotify e do YouTube, assim como outras de suas músicas. O Spotify disse ao portal holandês NU.nl que não foi responsável pela remoção, mas sim os detentores dos direitos autorais.
Broken Veteran, por sua vez, declarou que desconhecia o motivo e que estava investigando. Ao Guardian, ele acrescentou que via a IA como “apenas mais uma ferramenta de expressão, particularmente valiosa para pessoas como eu, que têm algo a dizer, mas não possuem formação musical tradicional”.
Ele ainda enfatizou que a tecnologia “democratizou a criação musical” e alegou que suas canções “expressam frustração com as políticas governamentais, não com os migrantes como indivíduos”.
A canção “Walk My Walk”, de Breaking Rust, além da lista do Spotify, liderou durante três semanas a parada “Country Digital Song Sales” da Billboard, que mede downloads e compras digitais.
IA avança como produtora de hits
O sucesso desses lançamentos integra um movimento maior. Um estudo divulgado pelo Deezer estima que 50.000 músicas geradas por IA são enviadas para a plataforma todos os dias, o equivalente a 34% de todo o conteúdo novo.
Ed Newton-Rex, músico e fundador de uma organização sem fins lucrativos que certifica as práticas de treinamento de dados de empresas de IA generativa como justas para os artistas, observou ao Guardian que a enorme quantidade de músicas geradas por IA disponíveis online é um fator crucial para o sucesso de alguns poucos hits produzidos pela tecnologia.
“Faz parte da tendência muito rápida de a música gerada por IA ganhar popularidade, essencialmente porque está se espalhando em grande volume”, apontou. “O que temos aqui são 50.000 faixas por dia competindo com músicos humanos. Temos um novo concorrente hiperescalável e, além disso, um concorrente que foi construído por meio da exploração.”
Outro ponto a favor das canções geradas por inteligência artificial é que a qualidade delas melhorou bastante. Para se ter uma ideia, uma pesquisa da Deezer com 9.000 pessoas em oito países constatou que 97% delas não conseguiam distinguir entre música gerada por IA e composta por humanos.
“Não há como negar. Acho que é justo dizer que hoje em dia não dá para distinguir a melhor música feita por IA da melhor música composta por humanos”, observou Newton-Rex.
E há mais uma razão para o atual sucesso: toda uma infraestrutura digital pronta para impulsionar essas faixas e que permite que elas se espalhem facilmente. Algumas plataformas que fazem esse trabalho são DistroKid, Amuse, Landr e CDBaby.
“Basicamente, toda música criada por IA que você vê não é distribuída por uma gravadora tradicional”, destacou Chris Dalla Riva, autor do livro Uncharted Territory, sobre os dados por trás da viralização da música. “Elas são feitas por uma pessoa em seu quarto e enviadas para esses sites de distribuição”, finalizou.






