Muito Pix e pouco dinheiro de papel: as previsões do Google sobre o futuro das transações financeiras e o perfil brasileiro

Segundo os dados apresentados por Gustavo Pena, head de Indústria do Google Brasil, e Thais Melendez, líder de insights estratégicos para Serviços Financeiros, a transição do dinheiro físico para o digital ganhou força a partir de 2019, com o início da pandemia de covid-19. “O recebimento do Auxílio Emergencial foi um dos pontos fundamentais para que as pessoas abrissem contas em bancos digitais, junto à chegada do Pix. Nesse período, é evidente o salto da bancarização no país”, explicou Melendez.

Desde então, a adesão às instituições financeiras digitais, especialmente ao sistema de pagamento instantâneo, não parou de crescer. Em 2024, 47% do volume total de transações foi feito via Pix, seguido por 34% com cartão de crédito e 18% por outros métodos.

• Em 2024, 63% dos brasileiros usaram o PIX ao menos uma vez por mês
• 6 em 10 pagamentos realizados em lojas virtuais serão feitos via Pix em 2030, afirma relatório
• Quando vale a pena usar o Pix Automático?

Hoje, o Pix é o recurso financeiro mais utilizado no Brasil, presente no cotidiano de 93% da população adulta. Segundo a pesquisa, em 2024 já havia 816 milhões de chaves ativas no país.

Embora seja mais popular entre a geração Z, o Pix também é amplamente adotado por pessoas de faixas etárias mais altas. Em termos regionais e socioeconômicos, o Google aponta que a adesão ao sistema é homogênea.

Apesar da ascensão dos pagamentos digitais, os cartões seguem firmes na carteira do brasileiro, ao lado da quase aposentada nota de cinco reais. O Google revelou que a emissão de cartões de crédito mais que triplicou na última década, e 58% dos entrevistados relataram aumento nos gastos com o cartão nos últimos cinco anos.

Atualmente, cada brasileiro possui, em média, dois cartões. E, à medida que a renda cresce, aumenta também o número de cartões emitidos em nome do titular.

Mesmo com a forte digitalização do consumo, o cartão continua relevante: 83% da população utiliza cartão de débito, enquanto 69% têm ao menos um de crédito. Entre as classes D e E, o principal atrativo é o aumento do limite oferecido pelas instituições financeiras. Programas de fidelidade, acesso ao crédito e o costume de uso também ajudam a manter o cartão em evidência.

Além disso, segundo a pesquisa, ele é preferido em compras online ou de maior envolvimento, como passagens, hospedagens e eletrônicos, devido à segurança e às opções de parcelamento.

Ainda assim, o Pix se destaca por vantagens como praticidade, agilidade, segurança, descontos e isenção de taxas, além de novos recursos como o Pix Parcelado, que ampliam seu apelo frente aos meios tradicionais.

Com base nos dados da pesquisa e na análise do UPI, sistema de pagamentos instantâneos da Índia que inspirou o Pix, o estudo aponta para um futuro em que diferentes meios de pagamento convivam de forma complementar. “O futuro será sobre complementaridade. À medida que o tempo passa, novos métodos vão surgindo, como o Pix, e se somando ao ecossistema de pagamentos”, explica Gustavo Pena.

O Google projeta que, até 2030, 64% dos brasileiros devem utilizar o celular e aplicativos financeiros como principal forma de pagamento. Essa estimativa considera o grau de familiaridade da população com o Pix, além de perfis mais receptivos à inovação: 18% demonstram interesse em conhecer novas tecnologias, enquanto 16% estão dispostos a adotá-las.

Para Thais Melendez, “nós fomos ganhando mais conhecimento da nossa própria vida financeira com o uso desses recursos e, com isso, mais independência. Por isso, agora, esperamos mais das instituições. Houve quase uma inversão de poder”. Isso indica um cenário futuro em que a tecnologia se complementa aos benefícios oferecidos pelos bancos — que, diante da concorrência, terão que inovar para manter a fidelidade de seus clientes.

*Sob supervisão de Daniel Pinheiro