O passaporte dos Estados Unidos deixou, pela primeira vez em 20 anos, o grupo dos dez mais poderosos do mundo. A mudança foi apontada pelo Henley Passport Index, indicador internacional que mede a liberdade de viagem dos cidadãos de cada país com base no número de destinos acessíveis sem a necessidade de visto.
Segundo reportagem publicada pelo jornal britânico The Guardian, o documento americano ocupa agora a 12ª posição, empatado com o passaporte da Malásia. Em 2024, os Estados Unidos estavam em sétimo lugar e, até julho de 2025, ainda figuravam no décimo. A perda de posições é vista por especialistas como um reflexo de um redesenho nas dinâmicas de mobilidade global e influência geopolítica.
Liderança asiática e critérios do ranking
Os primeiros lugares do Henley Passport Index são atualmente ocupados por países asiáticos. Cidadãos de Singapura podem viajar sem visto para 193 destinos. Coreia do Sul e Japão vêm em seguida, com acesso a 190 e 189 países, respectivamente.
A lista é elaborada pela consultoria britânica Henley & Partners, com base em dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA). Além do número de destinos acessíveis sem visto, o índice considera também aspectos de reciprocidade entre nações.
A influência das políticas migratórias
O declínio da posição americana no ranking tem relação direta com políticas migratórias mais restritivas implementadas nos últimos anos. Ainda segundo o The Guardian, decisões adotadas durante o governo do presidente Donald Trump, como o aumento de barreiras a turistas, estudantes e trabalhadores estrangeiros, tiveram impacto negativo na percepção internacional sobre o país.
Em contraste, países que ampliaram acordos de isenção de vistos e mantiveram políticas de abertura viram seus passaportes se fortalecerem. China e Vietnã, por exemplo, expandiram o acesso a turistas de diversas nações, mas deixaram os Estados Unidos fora das listas de isenção.
Enquanto cidadãos americanos têm hoje acesso sem visto a 180 destinos, apenas 46 nacionalidades podem entrar nos Estados Unidos sob as mesmas condições. Essa assimetria de tratamento contribui para a queda no ranking, segundo análise da própria Henley & Partners.
O caso do Brasil é um exemplo recente. Em abril, o país revogou a entrada sem visto para americanos, canadenses e australianos, citando a falta de reciprocidade diplomática.
Cresce a busca por dupla cidadania
O novo cenário tem motivado um movimento crescente de cidadãos americanos em busca de uma segunda nacionalidade. De acordo com Peter J. Spiro, professor de direito da Temple University, citado pelo The Guardian, “a múltipla cidadania está se tornando uma prática normalizada na sociedade americana”.
Esse fenômeno indica uma mudança de percepção sobre o poder simbólico do passaporte dos Estados Unidos, que historicamente representou acesso global e prestígio internacional.






