O evento de inovação Web Summit 2025 terminou ontem, em Lisboa, tendo recebido mais de 71,3 mil participantes. Mesmo a 6 mil km de distância de Belém (PA), sede da COP30, o evento em solo português debateu como mitigar os impactos da crise climática global.
No campo do financiamento, a doutora Gbemi Oluyele, professora associada de Mecanismos de Mercado Sustentáveis do Imperial College London, tem um diagnóstico pragmático. “O cenário climático está repleto de promessas e ambições. Mas as pessoas não estão investindo dinheiro em promessas”, disse ao Valor.
Está atenta ao andamento de um fundo para mitigar e combater danos climáticos, anunciado há dois anos na COP 28. “Gostaria de ver o que acontecerá com isso este ano.” A pesquisadora nota que há um desequilíbrio de investimentos entre mitigação e adaptação de comunidades para evitar desastres. O motivo é o retorno sobre o investimento.
“Muito financiamento e muitas promessas são direcionados à mitigação climática”, diz. “Se você constrói uma usina de energia renovável, vende eletricidade [e gera retorno]. Mas quando se trata de investir para mitigar perdas com desastres e adaptar comunidades para enfrentar desastres naturais, como o que aconteceu no Brasil [tornados destruíram a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, há uma semana], não necessariamente se terá um retorno imediato.”
Oluleye defende que as organizações privadas deixem de encarar investimentos para reduzir os efeitos de desastres climáticos como um serviço de “utilidade pública”, pois causam impacto direto sobre suas cadeias de suprimentos e resultados financeiros. “Digamos que você fabrique xampu. Mesmo precisando de ingredientes orgânicos para criar uma fórmula, você ainda precisa de funcionários. E se seus funcionários forem afetados por algum tipo de dano que impacte seu lucro? Não estamos mais em um mundo onde dizíamos ‘isso não é problema meu, não me afeta’ ”, diz a especialista.
No último dia do evento em Lisboa, no campo da tecnologia, a startup americana Twelve mostrou que avança com seu projeto de transformar CO2 captado do ar e da água utilizando catalisadores metálicos e eletricidade renovável para gerar novas moléculas, incluindo oxigênio, combustível para aviões e materiais que podem substituir o plástico de origem fóssil. “É o que chamamos de fotossíntese industrial”, diz a doutora Etosha Cave, cofundadora e executiva-chefe de Ciência da empresa.
Fundada em 2015 por Cave e colegas de pesquisa da Universidade de Stanford, na Califórnia, a Twelve recebeu US$ 800 milhões em investimentos de uma série de fundos, organizações governamentais e grandes empresas como United Airlines, Alaska Airlines, Coca-Cola, Amazon, Microsoft e Coca-Cola. “Já desenvolvemos uma peça de carro e uma espuma similar ao poliuretano com a Mercedes-Benz, fizemos um componente para detergente com a Procter & Gamble e lentes e óculos de sol com a Pangaia”, cita Cave. “Mas decidimos focar em combustível para aviação e aumentar a escala de produção”.
Cave conta que a Twelve está investindo metade dos recursos captados (US$ 400 milhões) em sua primeira fábrica piloto de combustível renovável, na cidade de Lake Moses, no Estado de Washington. “Teremos uma capacidade inicial de 1.400 galões por semana [o equivalente a 5,3 mil litros]”, informa Cave. Um voo comercial entre Nova York e Los Angeles, por exemplo, consome uma média de 6 mil galões de combustível (22,7 mil litros).
A Twelve também planeja instalar uma segunda fábrica no Meio-Oeste americano. Os primeiros a testarem o combustível são a Alaska Airlines e o grupo International Airlines Group (IAG), que reúne a British Airways e a Iberia.
O Brasil trabalha para expandir a produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF, na sigla em inglês) a partir de diversas fontes, mas com foco no etanol.
Para Cave, a proposta da Twelve se encaixa em uma mudança de paradigmas que hoje impacta a era da informação, com o avanço da inteligência artificial (IA) e da computação quântica, bem como sa geração de energia.
A repórter viajou a convite do Web Summit






