As agendas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) são absolutamente relevantes para o crescimento de setores estratégicos da economia global, além de acelerarem o desenvolvimento de novas soluções voltadas ao mercado empresarial. A pesquisa básica realizada nas universidades também exerce papel de destaque, promovendo a geração de conhecimento que, provavelmente, será aplicado futuramente. Há inúmeros exemplos que evidenciam avanços em projetos nas áreas de energia, transportes, agronegócio, saúde e, naturalmente, tecnologia.
No entanto, é chegada a hora de realizar uma profunda revisão sobre o real impacto dessas agendas de pesquisa, tanto nas universidades quanto nas empresas. Os motivos para isso são diversos: a necessidade de acelerar o desenvolvimento de soluções técnicas; o crescente acesso a dados; e o atual desafio quanto ao uso de tecnologias artificiais na produção de conhecimento em sentido amplo.
Existe, ainda, o claro desafio relacionado à maneira de atuar dos pesquisadores, que são genuinamente treinados para o rigor na busca de dados, na coleta de fontes acadêmicas relevantes, no uso adequado de metodologia científica e na publicação de seus estudos entre pares. No entanto, o tempo necessário para esse processo tem se mostrado um ponto crítico. Enquanto, em universidades de ponta, uma produção relevante pode levar anos, em empresas que investem fortemente em pesquisa esse mesmo processo pode ser concluído em semanas. Um exemplo claro é o desenvolvimento de aplicações em inteligência artificial por empresas especializadas, que muitas vezes conseguem acelerar a entrega de soluções.
Outro aspecto que deveria integrar essa agenda refere-se à transferência de conhecimento. Em grande parte dos países desenvolvidos, conforme analisado pelo ranking global de competitividade da Fundação Dom Cabral (FDC), em parceria com o Fórum Econômico Mundial (WEF), a produção de conhecimento universitário não está direcionada ao mercado. Isso se deve a diversos fatores, como a baixa qualidade de alguns estudos, o total distanciamento em relação à sua aplicabilidade e a ausência de ganho percebido por parte das empresas.
Além disso, os mecanismos usuais de valorização da carreira acadêmica entram em contradição com a ideia de aplicação prática dos estudos. Hoje, a principal métrica é o volume de artigos científicos publicados, quando o foco poderia estar na busca por patentes, na criação de novos negócios e na geração de riqueza.
Do lado das empresas, os desafios estão ligados ao custo do capital e à falta de incentivos concretos para inovar por meio da pesquisa. Apesar de avanços importantes na tentativa de integrar equipes de pesquisa, desenvolvimento, produto e mercado, o principal gargalo ainda é o acesso a recursos para fomento. Os critérios de análise das agências especializadas continuam excessivamente burocráticos e com forte viés acadêmico.
Se quisermos que P&D de fato faça diferença, será necessário repensar os critérios de avaliação, as métricas de impacto e os mecanismos de incentivo, tanto nas empresas quanto nas universidades. Caso contrário, corre-se o risco de uma perda real de relevância, especialmente em um tempo de acesso aberto ao conhecimento, com redes baseadas em inteligência artificial e dados amplamente disponíveis. Ir contra esse movimento pode representar um retrocesso e, certamente, não será nada inovador. Vale a reflexão, o debate e a busca por novos caminhos.
Hugo Ferreira Braga Tadeu é diretor do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC), conselheiro de empresas e coordenador de estudos com o World Economic Forum (WEF), IMD, Meta e PwC






