RICARDO DELLA COLETTA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Brics deve criticar medidas unilaterais no comércio internacional e fazer uma defesa da OMC (Organização Mundial do Comércio), num recado contra os tarifaços impostos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Ministros das relações exteriores do bloco formado por Brasil, Arábia Saudita, África do Sul China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Indonésia, Irã e Rússia se reúnem entre segunda-feira (28) e terça (29) no Rio de Janeiro, num encontro que ocorre em meio à guerra comercial desencadeada do republicano. Maior economia do Brics, a China foi atingida por tarifas de até 145% e é o principal alvo das medidas de Trump.
O embaixador Mauricio Lyrio, negociador-chefe do Brasil no Brics, disse neste sábado (26) que o documento conjunto que está sendo negociado para o encontro de chanceleres visa reforçar o compromisso com o multilateralismo no comércio.
“Os ministros estão negociando uma declaração com vistas a reafirmar a centralidade, a importância do sistema multilateral de comércio, das negociações comerciais multilaterais como eixo principal de atuação na área do comércio. Portanto, [os ministros] deverão reafirmar, como sempre fizeram em outras declarações, a a sua crítica a medidas unilaterais de que origem sejam”, disse Lyrio.
“É uma posição dos países do Brics já de longa data: a rejeição a medidas unilaterais”.
Além de negociador-chefe no Brics, Lyrio é o encarregado no Itamaraty de conduzir as negociações técnicas com o governo Trump sobre as tarifas americanas que atingiram o Brasil. Além de um imposto de 10% sobre seus produtos, o país é especialmente afetado por uma sobretaxa de 25% sobre suas vendas de aço aos EUA.
Reforçar a defesa do multilateralismo no comércio é uma sinalização dos países do Brics contra a ação de Trump, que com seu tarifaço obrigou diversas nações a abrirem negociações individuais com os americanos.
O Brasil defende que disputas comerciais sejam resolvidas no âmbito da OMC, mas o órgão está paralisado por ação dos EUA. Ainda no primeiro governo Trump, os americanos passaram a bloquear a indicação de novos juízes para o órgão de apelação da OMC, o que, na prática, impede o seu funcionamento.