(CBS NEWS) – O controle da hipertensão arterial, hiperlipidemia (conhecida como colesterol alto), diabetes, obesidade ou sobrepeso e tabagismo prolonga a vida em até 14 anos, de acordo com um estudo publicado no The New England Journal of Medicine. Segundo os pesquisadores, a ausência desses indicadores é associada a 13,3 anos a mais de tempo livre de doenças cardiovasculares para mulheres e 10,6 para homens.
Os cinco fatores controláveis apontados pelo estudo são responsáveis por aproximadamente 50% do risco global de doenças cardiovasculares, comuns em pessoas acima de 50 anos. Caso hábitos que combatam o desenvolvimento dessas condições sejam tomados na meia idade -a partir dos 40 anos-, o tempo vital pode ser aumentado em até 14,5 anos para mulheres e 11,8 anos para homens.
Os resultados mostram que a mudança comportamental entre os 55 e 60 anos gera o maior benefício. Controlar a hipertensão nessa faixa dá o maior aumento de período sem doenças cardiovasculares, e deixar de fumar prorroga a morte por mais anos. A ausência de diabetes indicou uma diferença de 6,4 anos para mulheres e 5,8 para homens, bem como não fumar impacta 5,6 anos para mulheres e 5,1 para homens.
Os cientistas, liderados pela Universidade de Hamburgo, coletaram dados de mais de 2 milhões de participantes em 39 países de seis continentes. “A diversidade de contextos e culturas é fundamental pois reflete risco mais realista e abrangente. Isso significa que os dados representam diferentes grupos e realidades”, explica a professora de medicina da UPF (Universidade de Passo Fundo) e uma das autoras do artigo, Karen Oppermann. “Essa heterogeneidade confere ao estudo força e precisão muito maiores, tornando os resultados especialmente relevantes para compreender o impacto dos fatores de risco no mundo real.”
Dentre os pacientes, estão 350 mulheres na menopausa de Passo Fundo e 1,7 mil pessoas monitoradas pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Estas concederam informações para o EpiFloripa (Condições de Saúde de Adultos e Idosos de Florianópolis).
Os resultados são sobre saúde populacional. Se há mudança comportamental em algum indivíduo, não quer dizer que viverá exatamente mais 14 anos -pode ser mais ou pode até ter um infarto sem nenhum dos cinco critérios de risco.
A professora do Departamento de Saúde Pública da UFSC Eleonora d’Orsi, uma das autoras do artigo, diz que o Estado deve atuar para mitigar os fatores. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde.
“Todos os fatores têm políticas públicas implementadas e funcionando pelo SUS. Acho que não tem outro país com essas políticas de forma tão sistematizadas, mesmo o Canadá e a Inglaterra, que têm sistema público de saúde”, diz.
Ela cita o combate brasileiro ao fumo como exemplo. “O Brasil tem a política pública de redução de tabagismo mais bem-sucedida.” Ademais, há protocolos para o combate à hipertensão que incluem, inclusive, mudanças de comportamento e dietas e “afetam outros fatores de risco, como, por exemplo, a obesidade e diabetes”. A presença de academias de rua e educadores físicos também é importante, argumenta.
“São iniciativas simples, mas que exigem profissionais capacitados e engajados nessa grande missão de reduzir o risco cardiovascular -a principal causa de mortalidade entre homens e mulheres”, diz Oppermann.
E fatores socioeconômicos estão ligados ao desenvolvimento das enfermidades. Isso porque a população mais pobre tende a, por exemplo, consumir mais alimentos ultraprocessados, de acordo com estudo de 2022 da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
O consumo desses produtos está associado ao risco de contrair quatro dos fatores, conforme diversas pesquisas apontaram nos últimos anos.
“Muitos estudos mostram que desigualdades sociais -como renda, qualidade de moradia, trabalho, transporte e acesso à saúde e serviços- têm impacto muito grande na prevalência de fatores de risco.”
Mesmo assim, d’Orsi fala que os resultados inspiram esperança porque significam que quem abandona maus-hábitos após os 50 anos ainda tem chance de recuperar anos de vida.
Para o tabagismo a regra é clara: não fumar. Inexiste quantidade segura de cigarros, mostra estudo do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos publicado em 2017 no periódico Jama International Medicine. Mesmo quem fuma uma vez ao dia -ou menos- tem chances de morte prematura. Além das doenças cardiovasculares, as substâncias encontradas no cigarro impulsionam outras enfermidades, como o câncer de pulmão, enfisema etc.
A professora do Departamento de Fisiologia da UFSC Jamaira Victorio, que não fez parte do estudo, diz que a amplitude de dados pode impactar a exatidão dos resultados, inclusive pela desigualdade de informações advindas de diversas regiões, fazendo com que faltem informações. Faz parte, ainda mais quando a investigação é a nível global. “É interessante que o trabalho reúna todas as informações utilizando modelagens estatísticas para comparar dados.”
De todo modo, considera que o resultado é “sensacional” e diz que, para além da mudança de hábito a partir dos 50 anos, as descobertas deveriam ser utilizadas pelo Estado e por pais com o objetivo de preparar jovens para o envelhecimento.
Opperman, da UPF, conta que o projeto avançará para nova fase, que incluirá novas variáveis.






