A COP30 começou com um gesto simbólico que vai além das negociações diplomáticas. Na manhã desta segunda-feira (10), a Agrizone, um dos espaços paralelos da conferência, foi aberta ao público em Belém com a assinatura de um acordo de cooperação entre a Embrapa e a Nestlé Brasil.
O anúncio marcou o início oficial das atividades do pavilhão e apresentou ao mundo uma mensagem clara: o futuro da agricultura brasileira depende da união entre ciência, inovação e sustentabilidade. E vai além: depende da parceria entre iniciativa privada e órgãos públicos.
A Agrizone é uma grande vitrine da agricultura regenerativa. Em meio a estruturas de madeira certificada e áreas sombreadas, o visitante encontra vitrines tecnológicas que simulam o campo real, com cultivos, experimentos e sistemas produtivos criados por diferentes centros da Embrapa. Além disso, há informações variadas sobre os biomas brasileiros, por exemplo.
O espaço apresenta desde modelos de integração lavoura-pecuária-floresta até práticas de agroecologia, manejo do solo e restauração florestal com vegetação secundária. É a tradução prática de uma agricultura que busca reduzir emissões, regenerar ecossistemas e fortalecer a economia rural.
“Planejamos a COP30 há um ano e meio justamente para mostrar que a agropecuária brasileira, embora vulnerável às mudanças climáticas, é também resiliente. Este é o momento de apresentar uma agricultura de baixo carbono, regenerativa e multifuncional — capaz de produzir alimentos, energia e saúde”, afirmou a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá.
Massruhá explicou que a Agrizone foi pensada como um espaço de encontro, em que a ciência se conecta à prática e às pessoas diretamente. Sem intermediários.
“A ideia é reunir produtores rurais, pesquisadores, empresas e governos em torno de um mesmo propósito: construir uma agricultura mais sustentável e inclusiva. Trouxemos o que há de mais concreto, tecnologias que já estão em uso e que mostram que é possível conciliar produtividade e conservação”, destacou.
Silvia defendeu ainda a criação de um pacto por uma agricultura regenerativa, capaz de alinhar políticas públicas, incentivos e práticas produtivas em escala nacional. Ela mencionou o programa Caminho Verde Brasil, iniciativa do governo federal com participação da Embrapa, voltada à recuperação de 40 milhões de hectares de áreas degradadas.
“O Brasil tem uma vantagem que poucos países possuem: pode ter duas ou três safras na mesma área, aumentar a produtividade sem derrubar florestas. Nosso papel é provar que desenvolvimento e conservação podem caminhar juntos”, completou. “Queremos mostrar ao mundo que somos uma potência agropecuária que sabe produzir sem destruir”.
Cooperação entre público e privado
O CEO da Nestlé Brasil, Marcelo Melchior, reforçou que a COP30 e a Agrizone representam o que há de mais moderno na agenda ambiental: cooperação entre o setor público e o privado. Segundo ele, o acordo firmado com a Embrapa une conhecimento científico e ação prática, criando um modelo que pode ser multiplicado por outras cadeias produtivas.
“Temos a felicidade de trabalhar com a Embrapa há muitos anos, e essa não é uma relação de ‘nós e eles’. É uma relação de ‘nós juntos’. Eles trazem a ciência, nós trazemos o campo e os produtores. Quanto mais cooperarmos, mais rápido conseguiremos escalar soluções”, afirmou.
A parceria se concentra em três cadeias produtivas estratégicas — leite, café e cacau —, cada uma em um estágio distinto de maturidade. No leite, a Nestlé foca em bem-estar animal e boas práticas; no café, o programa Cultivado com Respeito promove manejo hídrico e condições dignas de trabalho; e no cacau, a prioridade é atingir a autossuficiência nacional de forma sustentável.
“Hoje, o Brasil ainda importa parte do cacau que consome. Queremos ajudar o produtor a começar com as boas práticas desde o plantio, com sombreamento e integração agroflorestal. É um momento para provar que sustentabilidade e renda podem caminhar juntas”, explicou Melchior.
O executivo ressaltou que a COP30 não é apenas um fórum de promessas, mas uma oportunidade para que soluções reais cheguem ao produtor rural. “A tecnologia precisa sair do laboratório e ir para o campo. É assim que a descarbonização deixa de ser conceito e vira prática”, afirmou.
Pacto
Ao longo dos próximos dias, a Agrizone receberá produtores rurais, startups, cooperativas, bancos e centros de pesquisa — todos em busca de novas formas de produzir sem ampliar o desmatamento.
“A agricultura regenerativa não é uma ideia para o futuro. Ela já está acontecendo. Nosso desafio agora é ampliar a escala e garantir que o conhecimento chegue a todos os produtores”, disse Silvia Massruhá.






