O pavilhão de Singapura na COP30, em Belém, oferece uma degustação que desperta, no mínimo, curiosidade. As xícaras servidas ali durante os painéis do espaço têm aroma e sabor de café e chocolate, mas com um detalhe: nenhuma delas contém grãos. A inovação vem da Prefer, foodtech de Singapura que transforma subprodutos alimentares em versões alternativas para duas das commodities mais ameaçadas pela crise climática.
Fundada em 2022 por Jake Berber e Ding Jie Tan, a empresa desenvolve produtos a partir de arroz quebrado (“Broken rice”, os grãos que se quebram durante o processo e, por isso, não têm valor comercial pleno) e grão-de-bico fermentados, que reproduzem o sabor e a textura de café e cacau com até 85% menos emissões de carbono e metade do custo das versões tradicionais.
“Nossa missão é proteger os sabores que amamos da ameaça das mudanças climáticas”, afirma ao Um Só Planeta Berber, CEO da Prefer. “Queremos que o café e o chocolate continuem acessíveis e sustentáveis pelo maior tempo possível.”
Os fundadores enxergaram oportunidade diante de um cenário que pode tirar o sono dos amantes de café e chocolate. Estima-se que até 50% das áreas adequadas para cultivo de café podem desaparecer até 2050. O mesmo ocorre com o cacau, cuja produção depende de regiões tropicais cada vez mais vulneráveis à elevação de temperaturas e à escassez hídrica.
“Usamos ciência e fermentação para recriar o sabor sem depender das lavouras”, explica Berber. “É uma forma de manter viva a cultura do café e do chocolate, mesmo diante das pressões climáticas.”
Apelidado de “Príncipe da Fermentação”, o CTO Ding Jie Tan detalha o processo que transforma resíduos alimentares em novos aromas. “Fermentamos arroz e grão-de-bico para liberar aminoácidos e açúcares, que depois reagimos por Maillard para gerar as notas aromáticas típicas de café e cacau. É bioquímica aplicada à sustentabilidade.”
A reação de Maillard é uma transformação química natural que acontece quando proteínas (aminoácidos) e açúcares são aquecidos juntos, e é o que justamente dá cor, aroma e sabor tostado a alimentos como pão, carne grelhada, café e chocolate.
A startup lançou o PreferRoast™, um “extensor de café” para indústrias que buscam reduzir custos e emissões, e trabalha agora no PreferChoc™, para o setor de chocolate.
A aceitação inicial é positiva, segundo os fundadores, especialmente entre cafeterias e empresas de alimentos de Singapura. “As pessoas se surpreendem quando descobrem que não há grãos ali”, diz Tan. “O sabor é familiar, mas a origem é totalmente diferente.”
Para ampliar impacto, a Prefer firmou parcerias com a Ajinomoto, na Tailândia, e com a The Coffee Ferm, na Austrália e Nova Zelândia, que vão produzir e distribuir as versões locais. “Não queremos substituir o café ou o chocolate”, conclui Tan. “Queremos garantir que eles continuem existindo.”






