Uma espaçonave que está a caminho de Júpiter, a Jupiter Icy Moons Explorer, pode ajudar a esclarecer neste fim de semana o mistério sobre o 3I/Atlas, um objeto do tamanho de Manhattan que viaja pelo sistema solar interno a 209,216 km/h. As observações vão continuar durante todo o mês de novembro.
A maioria dos cientistas acredita que este visitante cósmico, que está em uma trajetória que o trará mais perto da Terra pouco antes do Natal, apresenta todas as características de um cometa gelado e passará inofensivamente sobre nós, nunca se aproximando a menos de 274 milhões de quilômetros do nosso planeta. Mas Avi Loeb, 63, astrofísico de Harvard, despertou fascínio e ridículo ao sugerir que o objeto pode não ser um cometa, mas sim uma espaçonave alienígena enviada para sondar nosso sistema solar.
O Jupiter Icy Moons Explorer — nave sem tripulantes da Agência Espacial Europeia — poderá em breve fornecer respostas. A ESA afirma que terá “excelentes pontos de observação” para registrar imagens do 3I/Atlas durante todo o mês de novembro. Como o objeto se encontra atrás do Sol, pela perspectiva da Terra, os telescópios terrestres só poderão voltar a observá-lo a partir de meados de novembro.
Enquanto isso, as observações contínuas do Telescópio Espacial Hubble permitem que os astrônomos estimem com mais precisão o tamanho do núcleo do cometa. Observações feitas até agora indicam que o limite superior para seu diâmetro é de 5,6 quilômetros, embora possa ser tão pequeno quanto 440 metros de diâmetro.
Os instrumentos da NASA que deve coletar observações do objeto 3I/ATLAS nos próximos meses incluem: Hubble, Webb, TESS, Swift, SPHEREx, o rover Perseverance em Marte, o Mars Reconnaissance Orbiter, o rover Curiosity, a Europa Clipper, a Lucy, a Psyche, a Parker Solar Probe, o PUNCH e os instrumentos SOHO e Juice da ESA/NASA.
“Se você fosse um homem das cavernas encontrando um celular, diria: ‘É um tipo de rocha que eu nunca vi antes’”, disse Loeb ao britânico The Sunday Times, resumindo o que ele chama de atitude desdenhosa de seus colegas em relação a tudo que é não convencional. “Eles sabem as respostas antes de terem todos os dados. Mas essa não é uma boa abordagem na ciência — especialmente quando se trata de um encontro às cegas de proporções interestelares.”
Loeb disse que este “objeto muito massivo” é o visitante interestelar mais rápido já registrado. Ele entrou pela primeira vez em nosso sistema solar através da Nuvem de Oort, há aproximadamente 8.000 anos, vindo de algum lugar mais próximo do centro da Via Láctea, onde as estrelas se formaram bilhões de anos antes do nosso Sol.
Ele foi avistado pela primeira vez em julho deste ano por um telescópio no alto do Deserto do Atacama, no Chile, parte do sistema de alerta precoce da Nasa para detectar objetos que podem colidir com a Terra. Logo, observatórios ao redor do mundo apontaram suas lentes para o que é apenas o terceiro objeto interestelar já registrado a passar pelo nosso sistema solar. O nome reflete isso: “3-I” significa “terceiro interestelar”.
Loeb, ex-chefe do departamento de astronomia de Harvard e respeitado por seu trabalho sobre a primeira geração de estrelas, foi coautor de um artigo em julho destacando a possibilidade de o objeto ser artificial — um “exercício interessante por si só”, disse ele, e “divertido de explorar”.
Nem todos acharam graça. “Qualquer sugestão de que seja artificial é um absurdo completo — um insulto ao trabalho empolgante que está sendo feito para entender esse objeto”, disse Chris Lintott, astrônomo da Universidade de Oxford.
Francisco Diego, professor de astronomia do University College London, concordou. “O que [Loeb] diz é um disparate absoluto”, afirmou. “O 3I/Atlas não é nada que já não esperávamos — agora temos a tecnologia, com telescópios cada vez mais potentes, para detectar esses objetos que não conseguíamos ver antes. É definitivamente um cometa.”
Mas as críticas não impediram Loeb de prosseguir com sua hipótese alienígena. Nas últimas duas semanas, o 3I/Atlas esteve escondido atrás do Sol, e ele suspeita do que possa ter estado fazendo enquanto estava fora de vista. Se for uma “nave-mãe”, ponderou, pode liberar “mini-sondas” que poderiam chegar à Terra em poucos meses.
“Pode ter se desintegrado agora, depois de se aproximar do Sol — se isso aconteceu, então, obviamente, é um objeto natural”, disse Loeb. Mas uma nave pode ter usado o Sol para assistência gravitacional, seja para acelerar ou desacelerar, acrescentou. “A partir das próximas imagens, poderemos dizer se esteve manobrando.”
Loeb estima que a probabilidade de ser uma nave artificial seja de 30% a 40% — o suficiente, segundo ele, para justificar a preparação para o que poderia ser um “evento cisne negro”, ou a chegada de um “cavalo de Troia” alienígena. O objeto estará mais próximo da Terra em 19 de dezembro: “Espero que essa coisa não nos traga nenhum presente de Natal”, acrescentou.
Para Loeb, uma das maiores anomalias do objeto é sua trajetória, que se alinha — com uma precisão de cinco graus — com o plano da eclíptica, a órbita plana ao longo da qual a maioria dos planetas, incluindo a Terra, se move ao redor do Sol. “A probabilidade de um corpo celeste eguir essa trajetória é de uma em 500”, disse ele.
Seu movimen otambém parece extraordinário. “Chegou ao lugar certo na hora certa para chegar perto de Marte, Vênus e Júpiter — e isso requer um ajuste fino”, disse ele, sugerindo que o objeto poderia estar escaneando alguns dos planetas mais interessantes do nosso sistema.
Inicialmente, os pesquisadores presumiram que o 3I/Atlas era composto principalmente de água. “Então, adivinhe só”, disse Loeb. “O telescópio [espacial] [James] Webb mostrou que apenas 4% do que está sendo expelido dele é água. Eu disse: ‘Seus dados são incertos’”. Outros disseram: “Quem é você para nos criticar?”
Alguns colegas astrônomos acusam Loeb de ceder ao fascínio do público por discos voadores. Ele cofundou o Projeto Galileu, uma iniciativa de pesquisa no Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica dedicada à busca de evidências de tecnologia extraterrestre.
Em maio, ele testemunhou em uma audiência no Congresso sobre fenômenos aéreos não identificados, dizendo que “existem objetos no céu que não entendemos” e pedindo maior financiamento para a detecção de OVNIs. Ele também afirmou que até 10% dos fragmentos metálicos recuperados do Oceano Pacífico contêm elementos “alienígenas” não encontrados em nenhum outro lugar do nosso sistema solar.
Em 2021, Loeb publicou Extraterrestre: O Primeiro Sinal de Vida Inteligente Além da Terra, relatando a descoberta de Oumuamua — o primeiro objeto interestelar conhecido, detectado em 2017. Para Loeb, o formato incomum de panqueca de Oumuamua e seu comportamento — ele pareceu acelerar inesperadamente para longe do Sol — sugeriam que poderia ser uma relíquia de tecnologia alienígena, talvez um farol silencioso há muito tempo ou uma “vela” movida a energia solar lançada milhões ou bilhões de anos atrás por uma civilização agora extinta.
“Colocamos muitos detritos espaciais lá em cima”, disse Loeb, referindo-se a estágios de foguetes, satélites, sondas e até mesmo o Tesla Roadster vermelho-cereja que Elon Musk colocou no espaço e que agora está orbitando o Sol. “Esses objetos podem um dia ser empurrados para fora do sistema solar à medida que o Sol se torna mais brilhante — eles se tornarão objetos interestelares. Somos capazes de fazer isso.” Mas outras civilizações tecnológicas podem ter nos precedido em bilhões de anos. É uma conjectura completamente legítima.”
Loeb acusou a comunidade científica de uma espécie de miopia cósmica — um conservadorismo que, segundo ele, a cega para as possibilidades. Enquanto áreas como a teoria das cordas ou o multiverso atraem financiamento generoso e prestígio intelectual, argumenta ele, a questão mais fundamental de todas — estamos sozinhos no universo? — tem sido negligenciada.
A boa notícia para Loeb é que os telescópios estão ficando cada vez melhores. “Espera-se que o observatório no Chile encontre um novo objeto interestelar a cada poucos meses na próxima década”, disse ele. Ele estará à procura dos mais incomuns.






