SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo da Ucrânia anunciou nesta terça-feira (9) a adoção de medidas draconianas para economizar energia elétrica, dada a incapacidade de retomar a geração e a distribuição normais devido aos ataques aéreos da Rússia.
“Iluminação adicional para prédios, ruas, parques, grinaldas decorativas e publicidade outdoor em centros urbanos não é uma prioridade neste difícil período para o setor de energia”, escreveu no X a premiê Iulia Sviridenko.
A campanha sistemática de Moscou contra a infraestrutura energética ucraniana seguiu um padrão a partir do segundo ano da guerra, 2023, com os russos alvejando principalmente instalações perto do período do inverno do Hemisfério Norte, que começa no fim de dezembro.
O sistema de aquecimento a gás também tem sido afetado duramente, além claro do abastecimento de água, já que as bombas do sistema de distribuição são elétricas. Segundo a premiê, só haverá energia disponível de forma prioritária para escolas, prédios do governo e indústrias estratégicas.
No mês passado, em duas ocasiões a capacidade de geração do país foi zerada, segundo a estatal Ukrenergo, e o ritmo dos reparos está cada vez mais lento. A premiê disse que um esquema emergencial de importação de eletricidade dos vizinhos foi autorizado.
O objetivo das forças de Vladimir Putin é, além de atingir a indústria de defesa do país, desmoralizar a população. A capital Kiev, por exemplo, só tem 10 horas de energia diárias nos últimos meses, e quase metade de seus moradores passou esta terça no escuro devido a bombardeios.
A insatisfação ainda tem uma agravante político para o presidente Volodimir Zelenski. Foi no setor de energia que um escândalo de corrupção descoberto por agências que ele tentou manietar, só para voltar atrás depois de protestos de rua, derrubou seu chefe de gabinete e dois ministros do governo.
No caso de Andrii Iermak, o chefe de gabinete, a perda foi irreparável: ele era visto como o operador do presidente e estava à frente da revisão da proposta de paz que Donald Trump apresentou como um prato feito cheio de ingredientes ao gosto do Kremlin, no fim de novembro.
Iermak chegou a participar da primeira reunião para revisar os termos do acordo, que foram de todo modo rejeitados pela Rússia, mas agora o ex-ministro da Defesa Rustem Umerov está a cargo do trabalho. Ele passou o fim de semana com negociadores americanos em Miami, mas não há uma saída clara.
Isso passou a pressão para o lado de Zelenski, após Putin endurecer com os enviados de Trump no Kremlin e rejeitar quaisquer concessões sobre suas demandas: conquista territorial e neutralidade militar de Kiev à frente.
No fim de semana, Trump disse estar “um pouco decepcionado” com Zelenski, ignorando que Putin não cedeu igualmente. Na segunda (8), após encontrar-se para pedir ajuda dos aliados europeus, o ucraniano voltou a dizer que não poderia ceder território aos russos.
Segundo o jornal britânico Financial Times, o republicano quer uma resposta nos próximos dias. Na Itália, onde visitou nesta terça o papa Leão 14 e a premiê Giorgia Meloni, Zelenski afirmou que deve apresentar nesta quarta (10) a mais recente revisão do plano.
Ele disse que “está pronto para uma trégua se os russos quiserem” e disse que os ataques ao sistema energético são prova de que isso vai ocorrer. Ele também afirma que quer discutir “em alto nível”, ou seja, com Trump, “nas próximas duas semanas”.
O fato é que, com os avanços russos nas últimas semanas no leste e sudeste ucranianos, ninguém sabe se Putin topará concessões que não sejam totais -em junho, ele havia colocado no papel a demanda de controle das quatro regiões que anexou ilegalmente em 2022.
Hoje, Kiev ainda domina cerca de 20% de Donetsk (leste), embora sua posição esteja precária. Nesta terça, uma semana depois de Putin anunciar a conquista do estratégico centro logístico de Pokrovsk, o comandante das Forças Amadas da Ucrânia, Oleksandr Sirskii, disse que “retirou suas tropas cerca de 5 km a 7 km ao norte” da cidade para poder abastecê-las.
Sirskii diz que ainda tem algumas unidades na cidade, mas nem os blogueiros militares ucranianos consideram isso factível. Ainda nesta terça, mais um vilarejo caiu em mãos russas, mas na província vizinha de Dnipropetrovsk.






