Mais de duas semanas após a reunião entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos EUA, Donald Trump, na Malásia, os chanceleres dos dois países se encontraram nesta quarta-feira (12/11) e devem se reunir novamente nesta quinta (13/11), em meio às negociações sobre as tarifas impostas pelo governo americano a produtos brasileiros.
Segundo fontes do Itamaraty, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, conversaram pela manhã em Niágara, no Canadá, à margem da reunião do G7 (grupo dos países mais desenvolvidos do mundo).
Durante o encontro, Vieira “relatou os entendimentos mantidos até agora no nível técnico sobre a questão das tarifas” e informou que o Brasil “encaminhou no dia 4/11 uma proposta de negociação” aos EUA, após reunião virtual.
O ministro brasileiro também reiterou “a importância de se avançar na negociação, conforme determinado pelos presidentes Lula e Trump na Malásia”, ainda segundo fontes consultadas pela BBC News Brasil.
Os chanceleres concordaram em agendar uma reunião presencial “em data próxima, para discutir o atual estágio da negociação”.
Segundo fontes do Departamento de Estado, esse novo encontro poderá ocorrer já nesta quinta, em Washington.
Tarifaço contra o Brasil
O governo brasileiro busca reverter as medidas adotadas pelo governo americano contra o país desde julho.
No entanto, apesar de uma melhora no diálogo desde o fim de setembro e do encontro entre Lula e Trump na Malásia em outubro, por enquanto as medidas permanecem em vigor.
As medidas foram adotadas em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado ideológico de Trump, e incluem a imposição de tarifa de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos
Também foram aplicadas restrições de vistos a autoridades brasileiras e sanções financeiras pela Lei Global Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e sua mulher, Viviane Barci de Moraes.
Além disso, o escritório do representante de comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês) abriu uma investigação contra o Brasil por supostas práticas desleais de comércio.
Após meses de tensão, houve melhora no diálogo a partir do fim de setembro, após um breve encontro entre Lula e Trump durante a Assembleia da ONU em Nova York.
Depois desse encontro, os dois presidentes conversaram por telefone e, no mês passado, se reuniram na Malásia, durante a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
Após a conversa entre Lula e Trump na Malásia, a expectativa era de que delegações dos dois países pudessem se reunir em Washington já na semana seguinte.
Do lado brasileiro, além de Vieira, também deveriam participar o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Esse encontro, porém, ainda não ocorreu, e as negociações entre os dois países desde então sobre o tema foram em nível técnico
Café e Venezuela
As medidas contra o Brasil não surtiram o resultado político esperado por Trump, e Bolsonaro foi condenado em setembro pelo STF a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado após perder a eleição de 2022.
Mas o impacto econômico das tarifas foi sentido também na economia americana, com alguns produtos mais caros, como o café.
Na terça-feira (11/11), em entrevista à Fox News, Trump mencionou uma possível redução em tarifas sobre o café, sem mencionar o Brasil ou quais países seriam beneficiados.
Um dia depois, o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, também indicou redução de tarifas sobre alguns produtos, entre eles o café, nos próximos dias.
Os EUA são o maior consumidor de café do mundo, e um terço é importado do Brasil. Trump já havia dito a Lula, durante o telefonema em outubro, que os americanos sentiam falta do café brasileiro.
A questão específica do café, porém, não foi discutida na conversa entre Vieira e Rubio, segundo fontes do Itamaraty.
Os chanceleres também não falaram sobre a Venezuela, outro tema relevante, no momento em que os Estados Unidos vêm aumentando sua presença naval e militar na região e atacando embarcações sob a acusação de tráfico de drogas.
Na reunião na Malásia, Lula chegou a oferecer atuar como mediador entre Estados Unidos e Venezuela.
Rubio é um dos integrantes da ala do governo americano que defende ação militar na região.






