RIO DE JANEIRO, RJ () – A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou a 0,09% em outubro, após marcar 0,48% em setembro, segundo dados divulgados nesta terça (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A taxa de 0,09% é a menor para meses de outubro em 27 anos, desde 1998 (0,02%). O resultado veio abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,15%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,08% a 0,23%.
O IPCA também desacelerou no acumulado de 12 meses. A inflação passou a 4,68% até outubro, após marcar 5,17% até setembro. A taxa mais recente é a menor desde a registrada até janeiro deste ano (4,56%).
O acumulado segue acima do teto de 4,5% da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central), mas parte dos analistas vê agora mais chances de o IPCA encerrar o ano dentro do intervalo de tolerância.
“A gente está caminhando para ter uma inflação provavelmente dentro da meta ao final de 2025. O IPCA de dezembro deve escorregar para baixo de 4,5%. É a principal expectativa”, afirma Leonardo Costa, do Asa, que atua no setor financeiro.
CONTA DE LUZ PUXA IPCA PARA BAIXO
A inflação de outubro perdeu força devido a fatores como o alívio da energia elétrica. A conta de luz teve queda no mês passado (-2,39%), puxando o IPCA para baixo, com impacto de -0,10 ponto percentual.
Se a energia fosse retirada dos cálculos, o índice teria subido 0,20%, de acordo com o IBGE.
A redução veio após uma forte alta da conta de luz em setembro (10,31%). As faturas avançaram na ocasião com o fim do bônus de Itaipu, um desconto temporário que havia sido aplicado em agosto.
Em outubro, o custo da energia continuou sob bandeira vermelha, mas no patamar 1. Isso significou uma sobretaxa menor que no patamar 2, em vigor em setembro.
Com o impacto da conta de luz, o grupo habitação teve queda em outubro (-0,30%). Os outros dois segmentos em baixa foram artigos de residência (-0,34%) e comunicação (-0,16%).
Economistas afirmam que a trégua do dólar contribuiu para frear os preços de bens industriais, uma das surpresas para baixo em outubro.
GRUPO ALIMENTAÇÃO E BEBIDAS PARA DE CAIR
O grupo alimentação e bebidas, por sua vez, interrompeu uma sequência de quatro meses consecutivos em queda. Houve relativa estabilidade dos preços em outubro, com leve variação positiva (0,01%).
O resultado reflete situações contrárias. De um lado, a alimentação fora do domicílio, em locais como restaurantes, acelerou o ritmo de alta na passagem de setembro (0,11%) para outubro (0,46%).
Já a alimentação dentro do domicílio, ou seja, a comida consumida em casa, seguiu em queda pelo quinto mês consecutivo. A baixa dos preços em outubro (-0,16%), contudo, foi a menos intensa dessa sequência.
O gerente da pesquisa do IPCA, Fernando Gonçalves, disse que a safra “mais abundante” de alimentos como o arroz reduziu a pressão sobre os preços nos últimos meses.
O IBGE destacou as quedas desse produto (-2,49%) e do leite longa vida (-1,88%) em outubro. Do lado das altas, o instituto sublinhou a batata-inglesa (8,56%) e o óleo de soja (4,64%).
Para Fernando, é possível que o momento mais confortável dos preços da comida, com taxas negativas, tenha ficado para trás. Na reta final do ano, os alimentos costumam subir com o fim de parte das safras e a demanda típica do período.
Enquanto a energia elétrica (-2,39%) puxou o IPCA de outubro para baixo, as altas do aluguel residencial (0,93%), da passagem aérea (4,48%) e do plano de saúde (0,50%) pressionaram o índice.
A inflação dos serviços ainda é um ponto de atenção, dizem economistas. Acelerou de 0,13% em setembro para 0,41% em outubro.
Houve impacto de componentes como alimentação fora do domicílio, aluguel e passagem aérea. Em 12 meses, os serviços acumularam alta de 6,20%, acima do IPCA (4,68%).
PROJEÇÕES, META E JUROS
Na mediana, as projeções do mercado financeiro apontam inflação de 4,55% nos 12 meses de 2025, conforme o boletim Focus, divulgado pelo BC na segunda (10).
Em 2025, a instituição passou a perseguir a meta de maneira contínua, abandonando o chamado ano-calendário (janeiro a dezembro).
No novo modelo, o objetivo é considerado descumprido quando o IPCA acumulado permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). O centro do alvo é 3%.
O índice estourou a meta contínua pela primeira vez em junho. A volta para o teto de 4,5% até dezembro não aparecia no radar de analistas, mas esse cenário começou a mudar nas últimas semanas.
“Diante das recentes surpresas para baixo, devemos revisar nossa projeção para o IPCA de 2025, que hoje é de 5%, e vemos a possibilidade de terminarmos o ano com a inflação dentro do intervalo de tolerância da meta”, disse a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, após a divulgação do IBGE.
Ela e outros analistas afirmaram que alimentos e bens industriais mostraram números menores do que os esperados em outubro.
O Copom (Comitê de Política Monetária) indicou nesta terça ter maior convicção de que a manutenção da taxa básica de juros (Selic) no atual patamar de 15% ao ano por tempo bastante prolongado será suficiente para levar a inflação à meta, segundo ata divulgada pelo BC.
“De modo geral, o dado [do IPCA] consolida a percepção de um ambiente mais favorável para o início de cortes na Selic, tendência que deve ganhar força nos próximos dias”, avaliou Rodrigo Marques, gestor de fundos e economista-chefe da Nest Asset Management.
As projeções do mercado ainda indicam Selic inalterada até o final de 2025. O Copom tem mais uma reunião no ano, agendada para 9 e 10 de dezembro. A aposta dos analistas é que os cortes comecem em 2026.
O juro alto dificulta parte do consumo e dos investimentos, já que o crédito fica mais caro. Ao reduzir a demanda, a Selic de dois dígitos tende a gerar uma pressão menor sobre os preços, aliviando a inflação.
O efeito colateral esperado é a perda de ritmo da atividade econômica. Há dúvidas, porém, se o governo Lula (PT) abrirá mão de medidas de estímulo ao PIB (Produto Interno Bruto) perto das eleições de 2026.
VITÓRIA TEM MAIOR ALTA
Entre as 16 capitais e regiões metropolitanas pesquisadas no IPCA, Vitória mostrou a maior inflação acumulada nos 12 meses até outubro: 5,39%. São Paulo e Aracaju vieram na sequência, com altas de 5,17%.
Os três locais são os únicos com variações acima de 5%.
Seis metrópoles, por outro lado, registraram IPCA abaixo de 4,5%. Foram os casos de Campo Grande (3,83%), Rio de Janeiro (3,89%), Rio Branco (4,01%), Belo Horizonte (4,36%), Salvador (4,39%) e Brasília (4,44%).
Fonte: Gazeta Mercantil Digital – Economia






