“Liliane, por que ainda temos uma lacuna tão expressiva de profissionais negros dentro das grandes empresas?” Esta é uma das perguntas que mais escuto de jornalistas, executivos(as) e mesmo de profissionais negros(as). Nestes casos, há sempre uma tríade que enfatizo nas respostas: vieses inconscientes, racismo estrutural e fatores históricos.
O primeiro pilar, o viés inconsciente, opera de maneira silenciosa e persistente. Ele molda percepções, influencia decisões de contratação e promoção, define o que é potencial ou quem está, ou não, adequado ao perfil da empresa. Ainda que nenhum desses critérios seja, de fato, objetivo ou neutro. Viés inconsciente é o filtro invisível que perpetua privilégios visíveis.
O segundo pilar, o racismo estrutural, não está apenas nas atitudes individuais, mas nas engrenagens que moldam a sociedade e sustentam o mercado de trabalho. Ele determina acesso desigual a oportunidades, cria barreiras mais altas e caminhos mais íngremes para profissionais negros, independentemente de sua formação ou capacidade técnica.
E, por fim, os fatores históricos. A exclusão sistemática de pessoas negras dos espaços de poder, de educação formal de qualidade e dos postos estratégicos no mundo corporativo não é acidental.
Sempre comento que, no dia seguinte à abolição da escravatura, infelizmente, não houve a implantação de políticas públicas estruturadas de habitação, saúde, moradia e educação para a população negra. Lembremos que só a partir da Constituição Cidadã em 1988, o direito de acesso à educação se torna universal.
Mediante tudo isso, como a sua empresa pode atuar de forma consistente? Digo e repito: problemas complexos exigem soluções complexas. Diversidade precisa parar de ser vista como um tema do coração, porque quando isso é feito, em qualquer vento que sopre mais forte, o coração parece mudar de rumo. O backlash (retrocesso) que vimos nas empresas no ano de 2025 é uma prova disso. Diversidade nas empresas é Gestão de Pessoas, de Processos e de Orçamento.
É preciso que a empresa, ao colocar o tema no centro da estratégia de gestão, realize o diagnóstico interno. Que percentual de funcionários(as) negros a sua empresa tem hoje? E na liderança nível gerente e acima? Qual a percepção dos(as) profissionais da empresa sobre o tema?
Com base nesses fatores, e também em outros relevantes para o seu segmento de mercado, e para o planejamento de longo prazo da sua empresa, quais metas e indicadores fazem sentido? E por fim, colocá-los em ação, sempre ajustando rotas ao longo do caminho.
Falando assim, parece simples! É o que qualquer empresa faz, nas mais variadas áreas: Compras, Jurídico, Comunicação, Negócios. Porém, quando falamos de diversidade e principalmente equidade racial, parece que o processo é constantemente travado pelos vieses inconscientes de quem está na tomada de decisão, pelo racismo estrutural que, quando ameaçado pela menor possibilidade de risco macroeconômico no mercado, chuta a diversidade para escanteio.
E pelos fatores históricos que sequestraram da população negra, durante anos, direitos básicos, como o acesso à educação. Neste mês você tem a oportunidade única de atuar e fazer a diferença.






