A indústria de tecnologia, especialmente no campo da Inteligência Artificial, entrou na sua era de fast fashion. A cada semana, uma nova tendência reluzente surge prometendo revolucionar tudo. Empresas correm para “vestir” o modelo mais recente de IA, adicionando features como quem compra uma camiseta da estação — movidas, muitas vezes, pelo medo de parecer ultrapassadas.
Essa efervescência reflete uma transformação profunda. A IA já deixou de ser promessa para se tornar parte ativa do nosso dia a dia, provou que com seu impacto a nossa geração segue com avanços de serviços capazes de criar textos, imagens e áudios a partir de comandos simples. O acesso é democrático e qualquer pessoa pode produzir conteúdos mais sofisticados com poucos cliques.
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Mas, como em qualquer revolução tecnológica, nem tudo o que surge permanece. Algumas soluções têm potencial para se consolidar e gerar valor por anos; outras desaparecem tão rápido quanto surgem, oferecendo apenas o brilho passageiro do hype.
Essa corrida alimenta um ciclo vicioso de feature churn (rotatividade de funcionalidades), em que o foco está no lançamento acelerado, não na integração profunda ou na estabilidade. O resultado? Um “guarda-roupa tecnológico” repleto de peças da moda que não combinam entre si, entregam pouco valor e rapidamente caem em desuso.
O interesse por novas ferramentas de IA é compreensível, já que nenhuma empresa quer ficar de fora dessa corrida. Mas, como na moda, existe uma diferença marcante entre peças que permanecem valiosas por anos ou aquelas que desaparecem com a chegada da próxima estação.
Uma projeção da empresa de pesquisa e consultoria Gartner aponta que, até 2028, cerca de 33% das aplicações de software corporativo contarão com agentes de inteligência artificial capazes de, de forma autônoma, executar tarefas e tomar decisões a partir de objetivos pré-definidos.
No entanto, a mesma estimativa aponta que 40% dos projetos de agentes de IA devem desaparecer até 2027, vítimas de custos elevados e de uma geração de valor incerta.
O recado é claro: o problema não está na tecnologia (IA) em si, mas na adoção apressada, guiada por modismos, sem comprovar se a solução realmente resolve questões concretas. Quando essa percepção chega, muitas empresas acabam no chamado “Vale da Desilusão” , termo do próprio Gartner para tratar da queda no interesse por uma tecnologia após um enorme entusiasmo inicial.
Mas a desilusão não vem da inteligência artificial em si, e sim de uma abordagem superficial, que, em vez de aprimorar a operação, pode gerar uma imensa dívida técnica e, em alguns casos, até abrir brechas de segurança.
A solução é encarar a IA não como um simples acessório, mas como a própria base do guarda-roupa tecnológico da empresa. Ainda nas metáforas sobre moda, é este tecido que costura e sustenta toda a estratégia operacional.
Nesse contexto, a inteligência artificial é usada quase de forma artesanal.
É preciso substituir o questionamento genérico “Estamos usando IA?” por perguntas mais específicas, como: “Que tipo de IA estamos usando?” ou “Essa IA vai gerar valor de forma duradoura?”.
Encarar a inteligência artificial de maneira artesanal começa por resgatar o verdadeiro significado de “inteligência”: a capacidade de adaptar, reagir e evoluir de forma contínua. É exatamente isso que define a IA Artesanal. Ela não é estática. Ela é projetada para ser resiliente e gerar valor contínuo. Ela aprende, melhora e se torna mais valiosa à medida que amadurece, evoluindo a cada interação.
Ferramentas de IA não devem ser adotadas apenas porque viraram o novo mantra, mas sim para resolver problemas concretos e reais. Para isso, é essencial que sejam concebidas desde a base, com uma arquitetura de dados ancorada em segurança e ética, e não apenas como uma “fachada” atraente.
Também é fundamental preservar o toque humano. Assim como a alta-costura é feita sob medida, a IA artesanal incorpora o “fator humano” de forma inteligente. A tecnologia não vem para substituir pessoas, mas para capacitá-las e empoderá-las. O objetivo é alcançar uma combinação perfeita entre a precisão da máquina e a sabedoria e empatia humanas,potencializando o trabalho de pessoas reais.
Estamos em um importante ponto de inflexão, em que se separam as organizações que usam inteligência artificial de forma eficiente das que utilizam apenas para cumprir o que se espera delas.
A escolha entre o hype passageiro e o valor duradouro definirá os vencedores da próxima década. A IA que aprende com cada interação, entende contextos e entrega valor real já está criando experiências que antes pareciam impossíveis. Em contextos conversacionais, por exemplo, ela gera não apenas diálogos, mas interações inteligentes que fortalecem o ativo mais duradouro: o relacionamento com o cliente — fazendo o futuro parecer presente, e ele já chegou.
*Poliana Pires é head de inovação na Blip






