Nos últimos meses, tem se tornado impossível ignorar o movimento que está acontecendo no ecossistema de startups: o cemitério está enchendo. Startups que antes levantavam rodadas milionárias com pitch decks bonitos e promessas grandiosas agora enfrentam a dura realidade de um mercado mais seletivo, mais racional e, sobretudo, mais exigente.
Mas esse não é o fim. É o filtro natural de um ciclo que se repete em toda revolução de mercado. Foi assim na bolha das pontocom, e é assim agora. A diferença é que, enquanto alguns tombam, outros estão nascendo. E são esses que vão se tornar os campeões absolutos da próxima década.
Durante anos, vivemos uma corrida irracional por crescimento a qualquer custo. O capital era abundante, os valuations disparavam e a lógica parecia simples: crescer primeiro, lucrar depois. Só que o “depois” chegou. E ele cobra caro.
Hoje, o capital está mais caro, os juros mais altos e os investidores, mais criteriosos. O resultado? As startups que não têm fundamentos sólidos estão desaparecendo. E, sinceramente, isso é bom. Porque quando o dinheiro fácil vai embora, o que sobra é execução, inteligência e real geração de valor. O mercado não está morrendo. Está ficando adulto.
Os campeões se formam no caos
Toda vez que um ciclo de abundância acaba, o mercado entra em modo seleção natural. É aí que surgem os verdadeiros campeões.
Foi no meio da bolha das pontocom que nasceram Google, Amazon e Facebook. Foi em meio à crise de 2008 que surgiram Airbnb, Uber e Slack. E agora, estamos vendo o mesmo acontecer. Startups que entendem o novo jogo — que sabem crescer com eficiência, foco e inteligência — estão se preparando para dominar seus setores.
Essas empresas não precisam de glamour para sobreviver. Elas vendem, escalam e entregam resultado. E fazem isso com muito menos capital e muito mais consistência.
Eficiência é o novo crescimento
No novo mercado, “crescer rápido” não é mais o diferencial. É preciso crescer bem. Rentabilidade, margens saudáveis e governança deixaram de ser temas chatos para se tornar as verdadeiras armas competitivas.
Os fundadores que antes mediam sucesso pelo tamanho da rodada agora medem pela saúde do caixa. O discurso mudou: quem não entende de DRE, fluxo de caixa e runway, não está jogando o mesmo jogo. A nova rodada é o lucro. A nova métrica é a eficiência.
E, nesse contexto, o investidor também precisa evoluir. Porque os fundos de venture capital não estão imunes a essa transformação. O investidor que seguir procurando o próximo “unicórnio de PowerPoint” vai ficar para trás. O novo perfil de startup vencedora é mais pragmático, mais enxuto e menos barulhento. Não são empresas que prometem o futuro, mas sim as que entregam resultado hoje. E cabe a nós, investidores, ajustar a lente: parar de olhar para o hype e começar a enxergar o valor real.
Por trás das manchetes sobre demissões e quebras, existe uma revolução silenciosa acontecendo. Vemos negócios antes ignorados, de setores tradicionais, com operações sólidas e modelos simples, ganhando protagonismo.
Essas empresas usam tecnologia como meio, não como produto. Aplicam inteligência artificial, automação e dados para melhorar processos, reduzir custos e escalar com eficiência. São os “negócios de verdade” com alma de startup. E são esses que vão liderar o próximo ciclo.
Ou seja, o cemitério vai crescer. Muitas startups não vão resistir. Mas o que emerge desse processo é um ecossistema mais maduro, mais eficiente e muito mais próximo da realidade. Os campeões absolutos que surgirem agora serão ainda mais fortes, mais lucrativos e mais relevantes do que as big techs que vieram antes. Porque, no fim das contas, o empreendedorismo não morre, ele se reinventa. E toda faxina abre espaço para um novo império.
*Pedro Carneiro é diretor de investimentos da ACE Ventures






