Minha rotina de trabalho nunca envolveu celebridades — daquelas que sobem em palcos, gravam novelas ou aparecem nas telonas do cinema. O jornalismo de economia e negócios tem suas estrelas, você sabe, mas são de um quilate diferente. Por isso, o encontro com Carlinhos Brown, o cantor e compositor baiano, foi um ponto fora da curva nos meus 40 anos de carreira.
Carlinhos me surpreendeu em vários aspectos. O primeiro foi a simplicidade, a generosidade e o profissionalismo: nenhum estrelismo, muito foco no trabalho e respeito por todos. O segundo foi sua forma física impecável.
Aos 62 anos, com 1,90 m de altura e barriga de tanquinho, o cantor, que fica oito horas em cima de um trio elétrico cantando e dançando nos carnavais, diz que a gente tem o direito de desfrutar da maturidade, que essa idade “é muito vantajosa” e que deseja viver além dos 100 anos, pois “esse planeta é lindo de viver”.
A seguir, trechos da nossa conversa presencial, ocorrida logo após ele participar de gravação da websérie Violência Real, Dano Real, para a qual não cobrou cachê, pois abraçou a causa contra a violência digital contra crianças e adolescentes da ONG Childhood Brasil.
Como a idade te pegou?
Muito bem. Acho que sempre estive preparado para a idade, porque sempre me comuniquei com pessoas mais velhas, que estavam próximas na minha comunidade e são mestres na minha vida.
São sapientes que gostam de uma boa conversa, têm um bom conselho, um papo agradável, uma história que realmente viveram. Ou seja, são livros sinceros diante da gente. É muito bom.
O que você faz para envelhecer bem?
Primeiro, busco cuidar do corpo. Faço exercícios: musculação e corrida para manter o físico, já que vamos tendo perdas, sobretudo musculares. Busco estar apto a calçar meus sapatos, vestir minhas cuecas, ter autonomia. Isso se reflete na qualidade de vida. A idade não significa que tudo acabou, que você precisa se encostar.
Essa ideia de se aposentar e não fazer nada, o corpo não gosta. O corpo gosta de atividade. Quem se aposenta é o tempo de serviço, não você. Você precisa sempre buscar formas de estudar o que não estudou, aprender o que não aprendeu, lidar melhor com a vida, pois o olhar se torna mais maduro. Temos o direito, sim, de desfrutar dessa maturidade e viver bem.
Você quer viver 100 anos?
Mais que isso, até. Como diz minha música: “Esse planeta é lindo de viver, esse planeta é lindo de morar”. Hoje temos tecnologias para isso, e é importante saber que a medicina oferece possibilidades para que você se sinta melhor e mais disposto.
Você lê sobre esse assunto?
Não, mas tenho um pouco de prática, porque quero viver bem. Sou músico e preciso enfrentar oito horas em cima de um trio elétrico, então tenho que estar bem preparado. Não adianta só exercícios físicos, mas também uma boa alimentação e suplementação.
Isso não significa encher-se de esteroides, coisa nenhuma. Isso é um equívoco. Com a ajuda da medicina, é possível repor algumas perdas para ir mais longe.
Qual a vantagem de ter 62 anos hoje?
É o olhar da experiência. Tudo fica melhor. Você já não engole a comida de uma vez, tudo tem um certo tempo. Também vem a compreensão sobre como amar o outro e como viver bem. Gosto muito dessa idade.
Me sinto muito melhor agora do que antes. Eu sentia aquele impulso, aquela energia que não sabia onde botar, era um excesso de coisas. Hoje chego mais inteiro e sinto que esta é uma idade muito vantajosa.






