O setor público é frequentemente associado à burocracia, à lentidão e à resistência à mudança. No entanto, na semana passada vivi algo que contradiz esse estereótipo: a força transformadora do intraempreendedorismo no setor público.
Em um encontro promovido pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, em Cartagena das Índias, reuniu-se um grupo de servidores e gestoras públicas que estão reinventando o Estado por dentro. São pessoas que inovam dentro das estruturas governamentais — transformando limitações em oportunidades. Esse fenômeno, mais comum no setor privado, começa a ganhar espaço e relevância também no serviço público.
O Peru oferece um exemplo notável. O órgão ambiental OEFA mostrou como a economia comportamental pode revolucionar a gestão pública. Ao aplicar princípios simples, como comunicações mais visuais, linguagem positiva e comparações entre pares, conseguiu resultados expressivos: a taxa de resposta a denúncias ambientais saltou de 36% para 86%, o tempo de retorno caiu de 71 para 22 dias e o reconhecimento de responsabilidade por infrações multiplicou-se por vinte.
Tudo isso sem novos recursos, apenas redesenhando a forma de se comunicar com as pessoas. Um caso inspirador de como entender o comportamento humano pode tornar a fiscalização ambiental mais eficaz, ágil e empática.
No Uruguai, intraempreendedores públicos digitalizaram completamente o processo de concursos, reduzindo o tempo médio do processo de dois anos para seis meses, cortando custos, eliminando o uso de papel e criando prontuários digitais, um salto de eficiência com impacto direto na vida dos cidadãos.
Durante a pandemia, vimos outras expressões dessa mesma energia criativa. Em São Paulo, uma equipe da prefeitura articulou uma parceria inédita com Gerdau, Ambev e o Hospital Albert Einstein, viabilizando a construção de 100 novos leitos no Hospital Municipal M’Boi Mirim em apenas 33 dias, com investimento de cerca de R$ 10 milhões.
A Ambev trouxe práticas ágeis de gestão, a Gerdau doou o aço estrutural e o Einstein assumiu a operação clínica. Um exemplo de colaboração público-privada que nasceu de uma atitude intraempreendedora dentro do Estado – e não de fora dele.
Esses casos mostram que há gestoras e gestores públicos apaixonados por oferecer um serviço melhor à população e que, com criatividade e propósito, conseguem driblar a rigidez da máquina pública. Imagino um futuro em que possamos identificar, apoiar e conectar esses intraempreendedores do setor público com os do setor privado.
Essa união de rebeldes construtivos pode acelerar soluções para desafios como mudanças climáticas, inclusão social e empoderamento feminino e, acima de tudo, melhorar a qualidade de vida de milhões pessoas.






