Pesquisadores do Feinstein Institutes for Medical Research, nos Estados Unidos, desenvolveram uma tecnologia que permitiu a um homem paralisado sentir objetos por meio das mãos de outra pessoa. A informação foi publicada pela revista New Scientist.
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Keith Thomas, que perdeu os movimentos e a sensibilidade do tronco para baixo após um acidente em 2020, participou do experimento. Com a ajuda de implantes cerebrais e algoritmos de inteligência artificial, Thomas conseguiu não apenas mover a mão de outra pessoa, mas também sentir texturas e formatos como se fosse sua própria mão em ação.
Como a tecnologia funciona
O procedimento envolveu a implantação de cinco conjuntos de eletrodos em áreas específicas do cérebro de Thomas, responsáveis pelo movimento e pela sensação tátil da mão direita. Os sinais neurais captados foram processados por um computador e enviados a eletrodos em outra pessoa, uma voluntária sem deficiências motoras, cujas mãos foram controladas remotamente por Thomas.
Durante os testes, a voluntária segurou diferentes objetos: uma bola de beisebol, uma bola de espuma e outra mais firme. Mesmo vendado, Thomas foi capaz de identificar os objetos com 64% de precisão, ao sentir a pressão e a textura pela mão alheia, como se fosse a sua.
Em outra etapa do experimento, Thomas também auxiliou Kathy Denapoli, que também tem paralisia, a realizar tarefas simples como pegar e beber de uma lata, algo que ela tinha dificuldade em fazer sozinha. Segundo os cientistas, após meses de prática, a força de preensão de Denapoli quase dobrou.
O estudo aponta que esse tipo de interação pode ter valor terapêutico não apenas físico, mas também emocional. Como relatou o pesquisador responsável, a simples interação entre pacientes em situação semelhante pode melhorar a autoestima e o bem-estar dos envolvidos.
Sentir pelo corpo de outros
Apesar do potencial, os próprios cientistas reconhecem que há dilemas éticos a serem considerados antes que a tecnologia possa ser usada em escala mais ampla. Questões como quem pode se beneficiar, como garantir consentimento e segurança, e quais usos não médicos poderiam surgir, ainda estão em debate.
Rob Tylor, membro do comitê científico da fundação britânica Inspire, considerou a técnica uma “opção útil”, especialmente para promover cooperação entre pessoas com condições similares.
Já Harith Akram, neurocirurgião do University College London Hospitals, alertou sobre possíveis riscos sociais. Em entrevista à New Scientist, ele questiona: “Seria bom ou ruim para a sociedade permitir que uma pessoa controlasse e sentisse por meio do corpo de outra?”.
Ainda que seja um experimento inicial, o estudo demonstra uma nova possibilidade de reconectar cérebros humanos a partir de sinais neurais, o que pode redefinir a maneira como pessoas com deficiência interagem com o mundo.
De acordo com os pesquisadores, o aprimoramento da tecnologia, incluindo melhor distribuição de sensores e ajustes no software, pode elevar significativamente a precisão das sensações percebidas, ampliando o alcance dessa inovação.






