Para além do venture capital e do private equity, um modelo de investimento que busca atender uma fatia de mercado não coberta pelos modelos tradicionais tem mostrado sinais de crescimento no Brasil: o search fund, também chamado de empreendedorismo por aquisição.
Nele, um empreendedor, o searcher (ou “caçador de empresas”), busca adquirir companhias já estabelecidas no mercado, com base de clientes sólida, produto consolidado e potencial de crescimento – o que ofereceria um risco menor comparado a outras modalidades de investimento.
Tendências para o Futuro:
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O conceito não é novo. Os search funds nasceram nos Estados Unidos na década de 1980, no ambiente da Universidade de Stanford. Na América Latina, o modelo atingiu seu maior crescimento, de 39%, entre 2009 e 2021. A expectativa é de que o progresso continue e atinja a marca de 56% até 2026, segundo o estudo Latin America Search Fund, realizado pela FGV em parceria com a Grant Thornton Brasil e a IE University.
Atualmente, a América Latina conta com 55 search funds, dos quais 32 estão no Brasil. Por aqui, somente em 2024, 29 novos fundos do tipo abriram captação, número que equivale à soma dos três anos anteriores no país, de acordo com levantamento da Spectra Investments. A gestora investe em search funds desde 2017 e possui R$ 6,5 bilhões sob gestão, com foco em investimentos alternativos.
Como funciona o search fund
O modelo de search fund é desenvolvido em cinco etapas. Primeiro, o empreendedor levanta o capital junto a um grupo de investidores para financiar o período de busca, chamado search phase, que leva de dois a três anos, geralmente. O dinheiro servirá para pagar o salário do searcher e sua equipe, além de advogado, contador etc.
Em seguida, inicia-se a análise de empresas com bons resultados de negócios e possibilidade de expansão. Quando o alvo ideal é encontrado, uma nova rodada de investimentos é realizada para concluir a aquisição. A partir daí, o próprio searcher assume a gestão da empresa, trazendo uma nova estrutura de operação para modernizar e acelerar o crescimento do negócio. Após esse trabalho, a venda da empresa pode ser executada.
Para Caio Nascimbeni, fundador da Atlante Capital, search fund brasileiro que adquiriu em 2023 uma empresa através deste modelo, a Syonet, o search fund faz muito sentido para todas as frentes envolvidas: o searcher, investidores e o país como um todo.
“Este é um modelo que tem ganhado popularidade, ao meu ver, pelo relacionamento próximo do searcher com o investidor e a possibilidade do investidor ver o ativo antes de fazer o cheque para colocar na empresa. Do lado do searcher, é uma oportunidade de virar CEO e ter essa experiência no comando de uma empresa”, diz.
O perfil dos searchers no Brasil
Segundo Frederico Wiesel, sócio da Spectra, o perfil dos ‘caçadores de empresas’ no Brasil tem mudado. Entre 2015 e 2021, quando o modelo de investimento ainda estava em desenvolvimento, era comum searchers recém-formados em MBAs no exterior, com idade entre 30 e 35 anos, e com experiência em consultoria ou no setor financeiro.
Na nova geração de gestores, também entram executivos que tiveram cargos no alto escalão ou empresários que já fundaram empresas e estão buscando uma nova companhia para liderar. Há ainda aqueles que possuem um espírito empreendedor e querem simplesmente assumir uma empresa já estruturada e rentável para torná-la melhor.
Não ter experiência alguma com empreendedorismo não impede um searcher de se tornar CEO da empresa adquirida. “Quando ele adquire a empresa e vira o CEO, ele estrutura um conselho, uma rede de apoio muito ativa. São interações mensais, muitas vezes até semanais, para dar todo esse suporte inicial”, afirma Wiesel.
Uma nova geração de líderes
O modelo search fund impulsiona o surgimento de uma nova geração de CEOs no Brasil, que levam à empresa adquirida uma visão mais estratégica de negócio para acelerar ainda mais o seu crescimento.
“Essa renovação do management de empresas pequenas e médias, que historicamente são empresas familiares ou companhias em que o time nunca teve um treinamento mais formal de gestão, é essencial para impulsionar a expansão do ecossistema”, diz Nascimbeni.
Em sua própria experiência como CEO da Syonet, empresa especializada em soluções de gestão de relacionamento com o cliente (CRM) no setor automotivo, ele passou a liderar um processo robusto de renovação na gestão, aceleração de investimentos e expansão do negócio.
Dentre as principais mudanças implementadas no seu comando, o executivo cita uma gestão baseada em métricas, já que muitos números relevantes não eram vistos, e a gestão de capital humano, com processo periódico de avaliação de performance, entre outras.
Os resultados foram rápidos: em 2024, a Syonet registrou faturamento recorde de R$ 60 milhões, um crescimento de 30% em relação a 2023, e conquistou 110 novos clientes, incluindo grandes grupos automotivos que movimentaram mais de R$ 85 bilhões em transações pela plataforma proprietária da companhia. A expansão internacional também ganhou força com a abertura de uma subsidiária no México, que recebeu R$ 1 milhão em investimentos. Para 2025, a empresa projeta chegar à marca de R$ 78 milhões em faturamento.
“A gente ainda não teve muitas saídas no Brasil, porque os primeiros investimentos não completaram 10 anos. Mas o search fund ainda tem muito pra crescer: há muitas empresas boas no Brasil que podem se beneficiar desse modelo de investimento, há investidores interessados e há searchers de qualidade no mercado”, afirma Nascimbeni.